Uma virgem grávida de 23 anos é uma das melhores personagens da televisão americana hoje. Não, a protagonista de "Jane the Virgin", cuja primeira temporada estreou essa semana, no canal Lifetime, não é nenhuma santa. De origem latina, mas nascida nos Estados Unidos, Jane (Gina Rodriguez) fez uma promessa à avó (Ivonne Coll) quando criança de esperar o momento certo para perder sua virgindade, mas acaba sendo inseminada artificialmente por engano. A trama é maluca como nas melhores telenovelas - "Jane the Virgin" é uma livre adaptação da venezuelana "Juana la Virgen". Mas a série, a primeira do canal CW a concorrer a um Globo de Ouro e a vencer um, de melhor atriz de comédia ou musical para Gina Rodriguez, brinca com o formato tão querido na televisão latino-americana, sem deixar de tocar em assuntos sérios como aborto, maternidade, carreira, imigração. "Quando soube da ideia, pensei que ia ser uma loucura escrever", disse a produtora executiva Jennie Snyder Urman, em entrevista em Los Angeles. "Mas aí fui dar uma caminhada no fim de semana e tudo começou a virar um pequeno conto de fadas sobre destino. Fiquei interessada em fazer um conceito absurdo funcionar." Um dos trunfos é a presença de um narrador (Anthony Mendez), que faz comentários divertidos sobre os momentos cômicos e dramáticos. "Jane the Virgin", que tem música do argentino Gustavo Santaolalla (Babel, Diários de Motocicleta), abraça os clichês do gênero, com triângulos amorosos - entre Jane, o namorado Michael (Brett Dier) e o dono do esperma Rafael (Justin Baldoni) -, vilãs como Petra (Yael Grobglas), ex de Rafael, e sua mãe Magda (Priscilla Barnes), e o segredo sobre o pai da protagonista. Mas a série alterna as reviravoltas com momentos de real emoção, com a ajuda de personagens bem construídos e tridimensionais. Não debocha das telenovelas, que Jane assiste com sua avó Alba e sua mãe, Xiomara (Andrea Navedo). Todas são especialmente fãs do astro Rogelio de la Vega, vivido pelo mexicano, filho de brasileira, Jaime Camil. "Acho que a série tem um tom bem diferente das telenovelas, mas presta uma homenagem de maneira respeitosa", disse o ator, que transforma o egocêntrico Rogelio em adorável. Poucas vezes a cultura de boa parte dos 55 milhões de latinos e seus descendentes nos Estados Unidos foi tão bem representada - eles ainda aparecem em menor número em comparação com outras minorias, como negros e asiáticos. Gina Rodriguez é uma das raras protagonistas de origem hispânica na TV americana. "Está havendo um grande progresso na televisão em relação à diversidade", afirmou a atriz. "Claro que sempre dá para melhorar." Ela mesma teve de romper algumas barreiras.