Um dos primeiros trabalhos do autor de "A Regra do Jogo", João Emanuel Carneiro, fez sucesso em todo país. Foi o filme "Central do Brasil", em 1998, que ele roteirizou, ao lado de Marcos Bernstein. Dois anos depois, estreava na TV com uma minissérie também bem-sucedida, "A Muralha". De lá para cá, o novelista foi ganhando fama e acabou sendo enaltecido no lançamento da atual novela das nove da Globo graças ao sucesso que "Avenida Brasil" (2012) teve. "Não tem fórmula, fazer novela não é algo matemático", diz João Emanuel Carneiro. Para ele, escrever um folhetim para o horário nobre é uma responsabilidade imensa, que exige dedicação e ousadia. Mas também há o medo. "O único jeito é fazer o melhor possível, mais que isso não dá para fazer. É sempre uma responsabilidade enorme escrever uma novela para 40 milhões de pessoas, mas estou tranquilo", comenta. "A Regra do Jogo" criou grande expectativa justamente pelo fato de o último trabalho do autor ser considerado um fenômeno pela crítica, o que colocou a "grife João Emanuel Carneiro" no patamar de astro. Tímido, ele não faz a linha que elogia o próprio trabalho, chama as tramas da novela de "brincadeiras" e ainda se esquiva de dar sua opinião sobre a onda de conservadorismo que teria feito a audiência de "Babilônia" cair. "Não sei se há uma onda de conservadorismo, sei que o público gosta sempre de uma boa história", fala João Emanuel, que está escrevendo "A Regra do Jogo" há mais de dois anos. Ele explica que seu processo para criar um folhetim é longo e vai amadurecendo aos poucos. "O pessoal acha que a gente vai escrevendo na hora que entra no ar, mas não é. Minha brincadeira é ao contrário, é uma obra semiaberta. Passei um ano fazendo a sinopse e um ano fazendo capítulos, escrevendo com um pouco mais de calma". Duas semanas antes de a novela das nove entrar no ar, o elenco já havia recebido os primeiros 20 capítulos. Anjo mau Entre as grandes novidades de sua nova obra, está o fato de ser a primeira novela "masculina" do autor, com o protagonista Romero Rômulo oscilando entre anjo e demônio. O autor revela que a ideia de fazer o personagem, que é um anti-herói, nasceu a partir de um pedido de sua mãe, uma mulher muito católica. "Ela queria que eu fizesse uma novela sobre um santo. E a discussão vai ser justamente essa, se o Romero Rômulo é ou não um santo." De acordo com o novelista, a saída do Murilo Benício não prejudicou em nada a trama. A princípio o papel de Romero Rômulo era dele. "Acho que esse personagem era para o Alexandre Nero. Acho que os atores acabam encontrando seus personagens, por vias às vezes tortas ou indiretas. Nero é o Romero. Vendo ele fazer cheguei a essa conclusão." Em "A Favorita" (2008), de autoria de João Emanuel, por um tempo não se soube quem era o bem e quem era o mal na trama, mas agora Romero Rômulo é os dois e deve continuar assim até o final. "Fazer novela é jogar com o público. Não dá para ficar alterando segundo o que o telespectador quer. Não vou seguir a tendência que o público quer, mas a tendência da própria história que vai ser contada. Tenho ela toda na minha cabeça, com alguns caminhos em aberto." Temática "A Regra do Jogo" questiona o julgamento que cada um faz do outro. "Até que ponto eu tolero ou já condeno? Esse limite para o brasileiro é bem variável. Desde o filme Central do Brasil, isso está presente no meu trabalho: uma mulher que escreve cartas, mas não as posta. Você a condena ou a absolve?", indaga o novelista. Se a temática da novela está agradando ou não o público, a resposta virá aos poucos, com a repercussão da história e a audiência. Porém, é difícil achar um ator do elenco que não se entusiasme com o enredo.