A carreira de Petrônio Gontijo na televisão não poderia estar melhor. Pelo menos é nisso que o ator acredita quando grava suas cenas da novela "Os Dez Mandamentos", exibida de segunda a sexta-feira pela Record, às 20h30. Na pele do sofrido Arão, o ator garante experimentar um tipo de personagem que, ao longo de seus 24 anos de televisão, nunca teve oportunidade: um homem mais bruto e marcado pela exaustão física "Estou acostumado com os engravatados e, agora, me vejo interpretando um cara que é escravizado por anos a fio para, de repente, lutar pela liberdade. Tem sido uma surpresa extremamente gratificante. Fui buscar meu lado mais grosseiro", explica ele, que também participa das gravações da nova temporada de "Conselho Tutelar", na pele do promotor André Noronha, na mesma emissora. Na história, Arão é irmão do profeta Moisés (Guilherme Winter) e teve sua trajetória marcada pela amargura. A ausência do pai, que julgava estar morto, era sua principal mágoa. E esse sentimento se intensificou ao descobrir a verdade: que Anrão (Paulo Gorgulho) estava vivo e longe de sua família, em fuga para se proteger dos egípcios. Tamanho sofrimento, na opinião de Petrônio, ajudou a criar uma torcida do público pela felicidade do rapaz na segunda fase da história. Algo que agora, na terceira etapa de "Os Dez Mandamentos", passa a se desenvolver. "Se a rebeldia dele fosse gratuita, acho que poderia deixar as pessoas decepcionadas. Mas, desde o começo, foi explicada essa relação com a família. Agora, os telespectadores estão vendo um Arão mais aberto e disposto a lutar pelo seu povo ao lado do irmão", avalia. Petrônio encara com muita naturalidade esse novo momento de Arão na trama. Afinal, depois de tanto sofrimento nas mãos do tirano Rei Ramsés (Sérgio Marone), nada mais justo que os escravos tentassem se unir contra os maus tratos egípcios e a favor da vontade de Deus. "A situação se acirra e a realidade dos hebreus se tornou ainda mais pesada com o novo faraó. Eles precisam mesmo tomar uma atitude. É contundente", diz. Nas ruas, como já era esperado, as tentativas de libertação são sempre apoiadas. "Essa é uma das histórias mais bonitas que já ouvi. Falamos da libertação de um povo inteiro. É muito emocionante. E o público tem captado esse sentimento", comemora. Na pele O início da terceira fase marcou também outra mudança em Arão: a passagem de 20 anos na trama. Para interpretar um homem de 53 anos, o ator, que completou 47 no mês de julho, passou a usar próteses no rosto e uma maquiagem que reforça as marcas do tempo em seu semblante. Além disso, os cabelos naturais de Petrônio, assim como a peruca utilizada por ele em cena, passam por um processo diário de envelhecimento. "Fizemos três testes até chegar ao ponto em que estamos. Os bolsões embaixo dos olhos e as rugas marcadas na testa cumprem bem essa função", analisa ele. O fato de interpretar um escravo que trabalha sempre debaixo de sol forte exige outro cuidado da equipe. Todos os dias, o ator passa por uma espécie de bronzeamento cênico. "Acostumado a viver em São Paulo e quase sem pegar sol, jamais convenceria como o Arão se não tivesse esse detalhe. Todo o processo de envelhecimento foi pensado muito mais de forma emocional do que puramente física", conta ele, que passa até duas horas no camarim sendo preparado para suas cenas, diariamente.