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Jornal Diário de Suzano - 16/04/2024
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Cidades

Cozinheira relata momentos de terror dentro da Escola Raul Brasil

Silmara Moraes conseguiu esconder cerca de 50 alunos dentro da cozinha da instituição

13 março 2019 - 23h56Por Aline Moreira e Douglas Pires - de Suzano
A cozinheira escolar, Silmara Moraes, de 49 anos, funcionária da escola estadual Raul Brasil, localizada no Parque Suzano, relatou os momentos de desespero que passou dentro da cozinha da instituição no momento do tiroteio, que aconteceu por volta das 9 horas dessa quarta-feira (13). O ataque aconteceu no intervalo de aula dos alunos.
 
Silmara explicou que estava servindo a merenda quando começou a ouvir os tiros. Imediatamente, ela chamou e "puxou" o máximo de alunos que conseguiu para dentro da cozinha. Estima-se que Silmara e as demais merendeiras tenham salvado mais de 50 estudantes. "No começo, não sabia identificar o barulho, achei que eram bombinhas ou algo do tipo. Quando percebi que era tiro, comecei a chamar os alunos para dentro da cozinha. Fechamos a porta e ficamos encolhidos esperando alguém tirar a gente de lá. Tentei colocar o máximo de gente dentro da cozinha", diz emocionada. 
 
Por conta do intervalo, uma boa parcela dos alunos aguardava pelo almoço. No momento do desespero, alguns estudantes tentaram pular o muro da escola, outros se esconderam para evitar os tiros. "É uma sensação desesperadora, tensa. Mas tivemos que manter a calma porque as 'crianças' estavam lá com a gente", relembra. 
 
De acordo com Silmara, a cozinha da escola possui muitas janelas com vidros, o que deixou todos dentro do local aflitos, uma vez que o local se mostrou vulnerável aos atiradores. "Se um deles apontasse uma arma ali dentro, muita gente ia morrer", diz. 
 
Após os atiradores cessarem os disparos - e consequentemente se suicidarem -, e a Polícia Militar (PM) chegar ao local, Silmara saiu com os alunos da cozinha, momento em que se deparou com as vítimas caídas no chão. "Quando saímos, vi muitos alunos no chão, mas não consegui identificar ninguém, estava em choque. Na porta vi uma mulher caída, depois eu descobri que era a nossa coordenadora", conta. 
 
Pai de aluna
 
"Graças a ela, a minha filha está salva", conta Wendel Machado, pai de uma das alunas da escola que estava na cozinha com Silmara no momento do tiroteio. De acordo com Machado, a filha ligou minutos depois do ocorrido informando o pai da tragédia. 
 
"Moro perto da escola e quando cheguei lá, minha filha estava saindo da escola desesperada. Ela me contou que quando ouviu o primeiro tiro, correu em direção ao refeitório. Foi nesse momento que uma merendeira a chamou para dentro da cozinha", explica. 
 
Machado conta que a filha está em choque. "Depois que a situação acalmou, as 'crianças' saíram da sala, mas acabaram passando pelos colegas que estavam mortos pelos corredores. Minha filha está abalada", diz. 
 
‘Pensei no pior’, diz mãe de aluno ferido com machadinha 
no tórax 
 
A dona de casa Sandra Regina Ramos começou o dia com uma ligação do Hospital Santa Maria, em Suzano. Do outro lado da linha, um funcionário solicitava a presença dela no centro médico com urgência.
Era o filho de Sandra, José Vítor Lemos, de 18 anos, que havia acabado de chegar ao hospital com uma espécie de machadinha afixada do lado direito do peito. 
 
Lemos, que completou 18 anos há 7 dias, foi uma das vítimas dos dois atiradores que invadiram a Escola Estadual Raul Brasil, na manhã de ontem: pelo menos 10 pessoas morreram e outras 9 ficaram feridas. 
"Eu pensei que meu filho tinha apenas se machucado na escola, na aula de educação física, mas quando saí de casa e vi vários helicópteros sobrevoando a cidade pensei no pior. Achei que meu filho tinha sido vítima de um assalto", desabafou Sandra ainda na porta do hospital.
 
Segundo ela, o filho está bem e não corre risco de morte. "Ele está abalado, chora a todo momento e diz que não vai mais voltar para a escola", detalha. 
 
O filho dela foi atingido por uma espécie de machadinha que teria sido lançada por um dos assassinos. 
 
De acordo com a coordenadora do Pronto-Socorro do Hospital Santa Maria, a médica Débora Nogueira, o estudante chegou ao local por meios próprios e estava sagrando bastante. "Foi rapidamente atendido. Não falava coisa com coisa, mas agora está fora de perigo", finaliza.