Considerada essencial para evitar o colapso do Sistema Alto Tietê e o rodízio oficial no abastecimento à população, a transposição de água da Billings para a Represa Taiaçupeba, em Suzano, poderá ser suspensa, dependendo do nível de contaminação do reservatório por cianobactérias (algas). Segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a obra entra em operação na semana que vem e uma "eventual" interrupção do bombeamento "não vai interferir na produção de água". A obra é orçada em R$ 130 milhões. A possibilidade de suspensão do bombeamento é admitida pela estatal em um "plano de contingência para cianobactérias", elaborado a pedido da Companhia Ambiental de São Paulo (Cetesb), que definirá níveis de alerta com base no número de células do micro-organismo presentes na água. Isso indicará a necessidade de redução ou suspensão do bombeamento de quatro mil litros por segundo da Billings para o Alto Tietê. Os níveis ainda estão em estudo, segundo a Cetesb. Resultados do monitoramento feito pela própria companhia na Billings em agosto mostram que a presença dessas algas na represa já extrapola os limites definidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) em sete dos nove pontos de coleta. No braço Rio Grande, de onde a água será transposta por tubos até o Rio Taiaçupeba-Mirim, havia 68.495 células de cianobactérias por mililitro, 37% mais do que o teto: 50 mil/ml. Já no braço do Rio Pequeno, que também será utilizado pela Sabesp para socorrer o Alto Tietê, a presença de algas supera em oito vezes o limite, chegando a 402.630 células/ml. Ao contrário do Rio Grande, esse braço da represa fica ligado ao corpo central da Billings e recebe a água do canal do Rio Pinheiros. As algas se formam em mananciais onde há alta concentração de nitrogênio e fósforo, provocada, principalmente, pelo lançamento de esgoto não tratado, e podem produzir toxinas com efeitos adversos à saúde. Segundo Pedro Côrtes, professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em recursos hídricos, a tendência é que a concentração de cianobactérias no reservatório piore nos próximos meses, por causa do aumento da temperatura. "A floração das cianobactérias ocorre principalmente no segundo semestre, porque ela está relacionada a temperaturas mais elevadas, acima de 22°C, e a um período de maior insolação. De imediato, isso tem impacto ecológico no manancial, sobre os animais silvestres que bebem a água bruta. Mas também pode trazer problemas para o abastecimento humano, porque força a Sabesp a usar algicidas para combater essas algas, o que pode deixar a água tratada com sabor e odor, além de aumentar o custo de tratamento", afirma Côrtes.