A crise sanitária decorrente do Covid-19 tem trazido muitas perdas em termos de vida, muita preocupação e muitas falências. Sobre o vírus, muitos de nós ou foi vitimado ou conhece uma vítima.
Estamos refugiados em nossas próprias casas, tentando reinventar a vida cotidiana, preocupados em não infectar e também em não ser infectados pelo vírus; além disso, estamos preocupados com a economia individual, local, mundial.
O que nem sempre nos vem à cabeça é a relação entre a crise sanitária e a questão ambiental: consumo supérfluo; excesso de resíduos sólidos; transporte; desmatamento; dentre outros.
Nos últimos dias (19/05/2020), em esforço de articular a crise sanitária com a questão ambiental, a Revista Nature Climate Chance publicou artigo de 13 pesquisadores mostrando o efeito do confinamento sobre o meio ambiente.
Somente para o mês de abril de 2020, observou-se uma redução de 17% de emissão de gás carbônico (CO2) em relação a abril de 2019. Por setor, observou-se redução de 43% de emissões do setor da aviação civil; e 70% das emissões dos transportes de superfície.
No Brasil, como as emissões não decorrem principalmente do transporte, da aviação e da indústria como acontece nos países desenvolvidos, mas fundamentalmente da pecuária e do desmatamento, há o risco de ampliação das emissões de gás carbônico (CO2).
No Brasil, o desmatamento e a agropecuária representam 69% das emissões de CO2; sendo que os outros 31% ficam por conta da indústria, dos resíduos sólidos e dos transportes.
Entre janeiro e abril deste ano (2020), o desmatamento no Brasil aumentou em 151% em relação ao mesmo período do ano passado. Trata-se dos meses de menor incidência de desmatamento. Por que isso ocorreu?
Há três explicações associadas: o madeireiro, principalmente ilegal e clandestino não trabalha em casa então suas atividades, apesar do confinamento, permanecem a pleno vapor; houve redução da fiscalização tanto em termos do maior resguardo pessoal dos fiscais diante do vírus quanto em termos do desmonte da máquina pública promovido pelo governo Federal; e finalmente, a voz do Presidente da República e do Ministro do Meio Ambiente que, se não promovem o crime ambiental, também não os inibem.
Então enquanto o mundo desaquece o clima, o Brasil nem isso o faz. Não enfrenta a pandemia, não constrói alternativa econômica e não contem as emissões de CO2.