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Jornal Diário de Suzano - 25/04/2024
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Coluna

A ave prisioneira

24 fevereiro 2020 - 23h59
Estes dias ficava encantada observando o grasnar rouco de um tucano e me admirava de vê-lo nas árvore em pleno centro urbano, com movimento de carros e movimentação de gente caminhando e falando.
Apesar de tudo somente os pássaros indicavam sua presença por ali, e voavam nervosos de um lado para outro protegendo seus ninhos, porque, apesar do lindo colorido de suas penas e do seu imenso bico e de se alimentar também de frutas é um pássaro destruidor de ninhos, devorador de ovos e filhotes com uma rapidez voraz...
Talvez a chuva contínua destes dias o afastou das matas da serra do Itapeti e o trouxe para nossos lados em busca de alimento.
Apareceu mais de uma vez nas árvores da calçada de minha casa e das casas vizinhas, já estava acostumando com a barulheira matutina dele, misturada à dos pássaros e das maritacas que costumam se alimentar no comedouro que instalei em casa, pois, gosto de ficar observando o que por alguns minutos enquanto absorve seu alimento lá no fundo das flores.
Entretanto, nos últimos dias ouço o ruído estridente que faz, mas percebo que a passarada não se assusta e não voa de um lado para outro tentando assustá-lo, como ocorria nos primeiros dias.
Certamente não se tornaram amigos, predadores nunca se tornam amigos de suas presas...
Cheguei à conclusão que por estar tranquilo, apesar de não se encontrar em seu ambiente natural, deve ter se tornado presa fácil de algum humano, que o alimentou e o tornou cativo em alguma gaiola, impedindo seu voo livre e bonito, apesar do peso do seu bico.
Continuo ouvindo seu grasnar irritado, que dura muito mais tempo que o normal e parece vir sempre do mesmo lugar.
Já passeei pela vizinhança tentando descobrir onde ele pode se encontrar, mas de tempos em tempos ele silencia completamente e fica impossível localiza-lo.
Se estiver mesmo preso, deve estar entristecido, afinal, é uma ave e foi criado para viver livre na natureza, voando de um lado para outro, buscando seu alimento e por vezes parando na copa das árvores onde observa atento a movimentação dos pássaros e a possibilidade de conseguir algum alimento fácil.
Deve ter ganhado uma casa gradeada, com água e comida, mas perdeu o sentido de sua vida, a liberdade, que deveria ser garantida para todas as aves, para que possam cruzar o céu de um lado para outro, trinando livremente, acasalando, criando seus filhotes em ninhos construídos com esmero nas copas das árvores e os levando ao aprendizado do voo, que de início parece tão difícil para aquelas avezinhas recém-saídas do aconchego e da segurança do ninho onde eram agasalhadas e alimentadas.
Agora me resta ouvir seu grasnar parece intenso e nervoso e imaginar que seu belo colorido podia ainda estar por aí voando livremente ou parando nas copas das árvores e nos postes, alegrando a vista de todos que se davam ao trabalho de ficar observando sua movimentação.
Oxalá esteja enganada e ele tenha encontrado comida farta e por ali tenha se se acomodado e, não esteja engaiolado, fazendo o brilho dos seus imensos olhos azuis sumirem aos poucos...