quarta 24 de abril de 2024Logo Rede DS Comunicação

Assine o Jornal impresso + Digital por menos de R$ 34,90 por mês, no plano anual.

Ler JornalAssine
Jornal Diário de Suzano - 24/04/2024
Envie seu vídeo(11) 4745-6900
Coluna

A solidão de quem fica

22 março 2022 - 05h00

Em tempos de pandemia de COVID ou de outras tantas doenças as perdas são inexoráveis, mas estamos tão envolvidos com a morte daqueles que se foram e principalmente com a partida daqueles que tiveram a vida ceifada rapidamente pelo vírus Corona, que muitas vezes deixamos de olhar para a solidão daqueles que aqui ficaram.
A convivência com eles é de apoio, de amor e de lembranças que ficaram, mas principalmente esse sentimento que tanto fragiliza de não ter tido oportunidade de se despedir, do vazio que se instala de alguém que estava ali e de repente se foi.
É certo que toda partida causada pela morte deixa um imenso vazio na vida daqueles que ficam e, não só a COVID, mas os acidentes e outros males ceifam a vida de maneira rápida e inexplicável, não se conseguindo explicar os motivos, a maneira e a ausência permanente que se instala na família.
Não importa se era jovem, velho, criança, saudável ou não...
O que nos traz as lembranças são os sonhos que ficaram para realizar, as palavras que não foram ditas, os silêncios que poderiam ter sido preenchidos com conversas esclarecedoras, as mãos que podiam ter dado mais carinho.
Tudo o que deixamos de fazer parece ter um peso incalculável que faz aumentar e tornar mais dolorida a ausência.
As cobranças que nos fazemos sem possibilidade de obter uma resposta daquele ente que se foi sem conseguir imaginar qual seria sua opinião, que agora parece tão importante faz doer muito mais e tornar mais profunda a dor que essa partida para a viagem definitiva causa.
Queremos de alguma maneira obter as respostas a todos os nossos questionamentos, esquecemos que tivemos oportunidade de fazer tudo isso e por conta de pequenos desentendimentos, de picuinhas desnecessárias, de falta de paciência e de excesso de irritação não conversamos, deixamos de dialogar.
E é só quando ficamos sós que as cobranças íntimas se fazem mais notáveis e percebemos que as discussões foram por motivos insignificantes, que fomos impacientes com coisas que podiam ser facilmente compreendidas e superadas, que deixamos nos levar por motivações insignificantes e negamos respostas às perguntas que nos fizeram, mantivemos silêncio quando as palavras seriam de fato a solução para o conflito que estava querendo se instalar.
Questionamos se lá do outro lado aquele ser que amamos também está sofrendo como nós, se também deixou de nos falar coisas importantes e, se como nós agora gostaria de ter dado mais oportunidades para o entendimento e se tinha alguma coisa especial para falar que ficou agora no silêncio da eternidade.
A solidão de quem fica a tristeza que passa a fazer parte de sua existência será imensa, pois, todos nós passaremos por essas perdas, a morte é de fato a coisa mais efetiva que vai acontecer em um momento de nossa vida, mas vivemos como se fossemos eternos, deixando passar as oportunidades de entendimento, de perdão, de boas conversas, acreditando talvez que lá na frente estaremos mais preparados e tudo fluirá mais fácil e não imaginamos que podemos não ter esse tempo disponível e, que temos que aproveitar todas as possibilidades de amar, de dialogar e de perdoar as falhas que cometemos, porque somos humanos e tudo é finito...