A semana que passou foi difícil para muitos, pois, o frio intenso, ao qual não estamos acostumados aqui em São Paulo, mudou a rotina de muita gente.
No supermercado no final do dia, uma jovem, toda encapotada, comenta comigo que saiu de madrugada para trabalhar e que após trabalhar o dia todo e, procurar manter boa disposição, agora só pensa em chegar a casa tomar alguma coisa bem quente e ir dormir debaixo de uma porção de cobertores.
Esse foi talvez o maior desejo de todos, pois, o frio estava desanimador...
Até mesmo os passarinhos que fazem uma algazarra imensa toda manhã para devorar a comida que colocamos logo cedo para eles, estavam encolhidos nos galhos das árvores aproveitando os raios de sol, que apesar de brilharem no céu não eram suficientes para aquecer, pois, parecia distante e envolto numa camada de gelo.
Nós aquecidos dentro de nossas casas, agasalhados com boas blusas e cobertores, alguns até com aquecedores, sentimos que o frio estava intenso e para os mais idosos até causava certa sensação de dor, por se manter com o corpo encurvado, acreditando que assim poderia se aquecer melhor.
Entretanto, nosso olhar se alongava tristemente quando saíamos de casa para nossas obrigações e víamos muita gente com agasalhos ralos sobre o corpo, cumprindo suas obrigações, o constante esfregar das mãos demonstrava que eles não aqueciam o suficiente e talvez nem mesmo segurassem a friagem do vento leve e gelado que soprava log pela manhã, apesar de terem enfrentado tudo isso para dar cabo de seus compromissos.
Muitos espaços em nossa região acolheram aqueles menos favorecidos da sorte, que vivem ao desabrigo, os alimentando, agasalhando e fornecendo uma refeição quentinha para confortar o estomago e o coração.
Mas, se observamos com mais calma, vemos sob as marquises e espaços cobertos muitos pacotes humanos enrolados em cobertores parcos e empoeirados, mal vislumbramos a pessoa ali embrulhada, que busca de alguma maneira se manter aquecida.
Nossa região envolvida parte pela serra do Itapeti mais próxima e pela serra do Mar, que de certa forma é como uma muralha protetora que evita que o frio marítimo nos atinja fortemente, é muito fria, pois, temos por aqui diversos cursos d'água, entre eles o nosso Tietê e, isso já é o bastante para que se sinta mais frio. No calor refresca, e no frio ajuda a manter a temperatura bem menor, apesar de manter a umidade do ar, que facilita nossa respiração mais saudável.
Foi muito comum observarmos também que moradores de rua, agasalhavam sob seus cobertores minguados os seus companheiros inseparáveis, os seus animais de estimação, aqueles que tratam como filhos, alimentando e aquecendo com seu próprio calor e é lógico, mantendo-se aquecidos também.
Não sabemos o que levaram essas pessoas a viverem sob o teto azul do céu durante o dia e sob as estrelas ao anoitecer, mas sabemos que são pessoas como nós, somente silenciosas, que carregam suas verdades no peito, sem partilhar com ninguém e que nesses dias de frio intenso que vivemos muitas nem tiveram ânimo para procurar aconchego num abrigo, ficaram por aí, nas calçadas à mercê de uma alma caridosa que tenha lhe doado algo para comer e mais um cobertor para se aquecer.