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Jornal Diário de Suzano - 20/04/2024
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Coluna

Idosos

22 junho 2021 - 05h00

E lá se foi o dia comemorativo dos idosos e suas homenagens costumeiras. Respeito, amor, condescendência, cuidado, dignidade só no papel... A vida real é bem diferente...
Se observarmos com um pouco mais de atenção que vamos perceber quantos idosos são ignorados pelas pessoas, pelas famílias, pelo poder público, que não os enxergam vivendo nas ruas, sofrendo com as necessidades peculiares da idade, acrescidas das muitas outras coisas básicas como boa alimentação, agasalho e um mínimo de conforto.
Ali a velha senhora, sentada nos degraus do prédio abandonado, enrolada em uma porção de velhos agasalhos, que agora só mesmo a vestem sem aquecer, parece observar desconsolada as pessoas passarem para cá e para lá sem se aperceberem dela e de alguns doces que numa pequena caixa ela expõe na esperança de obter alguns trocados com sua venda, para engordar seus parcos recursos de aposentada ou pensionista.
Logo adiante outro idoso, certamente esquecido pela família, tenta se acomodar no vão das portas do comércio fechado por conta desses tempos difíceis, o álcool que ingeriu nalgum boteco no caminho aquece o estomago e tonteia o cérebro cansado.
Ninguém parece se importar... É só mais um indigente ocupando as muitas calçadas por aí...
Acolá carregando um saco outro idoso revira os lixos em busca de latinhas de alumínio, algumas centenas delas o ajudarão talvez comprar um pouco mais de arroz e feijão que irá aquecer a barriga daqueles que com ele convivem e que dele dependem.
Não muito distante observamos uma carroça carregada com mais de dois metros de altura de papelão, baldes plásticos velhos e outros materiais descartados que poderão ser reciclados... Imaginamos o peso desse material e ao ultrapassarmos a carroça percebemos que um senhor de cabelos grisalhos, roupas desgastadas e o semblante crispado pela dor do esforço descomunal que faz para carregar todo aquele peso.
Idosos sim, que são dignos não só de homenagens, de um Estatuto e de um dia especial, mas que em sua grande maioria vivem relegados por suas famílias, pela sociedade, pelo governo que os humilha com o pagamento de aposentadoria irrisória que mal provê suas necessidades mais básicas.
Uma imensa maioria deles vive à mercê da caridade alheia, nas ruas, contando com a boa vontade de pessoas e de organizações de fato bem intencionadas que os ajudem encerrar seus dias com um pouco de dignidade. Felizes aqueles que vivem em seus lares, cercados do carinho e do zelo de seus familiares, bem alimentados e supridos em suas necessidades, acalentados pelo carinho de netos amorosos.
Que usufruem de conforto sem ter que se preocupar com o dia de amanhã, pois, independente de seus ganhos estarão garantidos por seus familiares.
Outros não tiveram tão boa sorte, abandonados em asilos que cuidam e os abrigam, sem, contudo, conseguir preencher o vazio que sentem no coração pela ausência perene daqueles que lhe foram caros, mas os esqueceram porque suas presenças incomodavam e envergonhavam.
Com olhar perdido buscam manter viva na memória a lembrança mesmo esgarçada a esperança de vê-los ainda uma vez antes de cerrar os olhos definitivamente.
Velhos com suas histórias de vida, de luta que poderiam auxiliar os jovens com sua experiência, são descartados.
Ainda temos muito para aprender e que possamos todos ter consciência que o tempo passa, independente da posição que ocupamos e que envelhecer é inevitável, que o estatuto não seja letra morta de normas esquecido na prateleira da estante de algum estudioso, mas ensinamentos vibrantes no trato do ser humano que alcançou a idade de ser reverenciado por seu conhecimento e luta.