Tempos passados era comum os ternos serem lavados e passados em lavanderia, a maioria deles de linho, exigiam um capricho maior na hora de passar e lavar. Então toda semana essas peças de roupas assim como as camisas eram separadas e entregues ao senhor que passava de bicicleta, com uma espécie de varal no bagageiro e ali pendurava as roupas sujas e retornava com elas dias depois com elas lavadas e passadas.
Quando chegava ao portão das casas gritava "tintureiro" com um sotaque diferente, ele era japonês e falava muito pouco a nossa língua, mas fazia um serviço esmerado na lavagem das roupas masculina e algumas roupas femininas mais chiques e que exigiam mais capricho.
Não era comum vê-los em outra profissão, quase todos que conheci eram tintureiros, fizeram até música imitando a maneira de falarem, que tinha um som especial.
Vim conhecê-los mais profundamente quando minha família resolveu mudar de cidade e viemos para Mogi das Cruzes, ali passei a conviver com muitos japoneses, e a maioria era produtor rural, viviam de suas plantações de verduras e as crianças eram nossos coleguinhas de escola, muito mais tímidos e retraídos, não conversavam muito e passavam o horário de intervalo quase sempre estudando entre eles.
Eu morava numa chácara na área rural e por esse motivo tinha um pouco mais de intimidade com eles, pois, viajávamos no mesmo ônibus, tanto para ir como para voltar da escola.
Por conta disso travei amizade com muitos deles e até frequentava as suas casas.
Aqueles que cultivavam verduras e legumes, além da obrigação de estudar, ainda ajudavam seus pais no preparo e na semeadura e, era bonito de se ver os longos canteiros umedecidos e verdinhos, com a plantação que agradecia os cuidados e crescia rapidamente.
Alguns já plantavam árvores frutíferas e na época da colheita, aproveitavam toda mão de obra da casa, para ajudar a colher os frutos e coloca-los em cestos de vime que depois eram transportados pelos mais velhos e para um galpão onde havia de tudo para o trabalho com a terra... Lá sentados em banquinhos separavam com cuidado os frutos pelo tamanho e descartavam os mais miúdos e aqueles com manchas ou deformidades... Seguiriam para venda somente aqueles mais bonitos. Os demais eram distribuídos para nós que íamos lá para brincar e aproveitar para ajudar colher os frutos, que também era uma maneira de nos divertirmos, enquanto jogávamos conversa fora...
Cresci no meio desses amigos de olhinhos puxados e aprendi muito dos seus costumes, pois, por morarmos próximos nossos pais permitiam que convivêssemos e até por vezes dormíamos na casa deles e eles na nossa, uma boa maneira de transferirmos também nossos costumes para eles.
Essa convivência era excelente também nos resultados escolares, exímios em matemática nos auxiliavam nos exercícios mais difíceis e em contrapartida ensinávamos a gramática que para nós era mais tranquila.
Dessas amizades antigas ainda mantenho muitas, que conservo com carinho, pois, foi no convívio com eles que aprendi muito da cultura japonesa, da culinária e de suas histórias, que nos fazia imaginar a viagem de navio que os trouxe após navegar muitos dias, para nossa terra que os recebeu com carinho e hoje agradece suas presenças em quase todas as áreas, onde transformam e engrandecem tudo que fazem...