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Jornal Diário de Suzano - 18/04/2024
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Coluna

Melancolia da chuva

13 abril 2021 - 05h00
Quando jovem e saia de madrugada para o trabalho na capital, achava os dias de chuva incríveis, apesar dos transtornos que causava às roupas e aos calçados que tinham que chegar impecáveis no escritório.
Ficava imaginando como seria bom poder curtir esses dias, sem necessitar sair de dentro de casa, calçada com um chinelo confortável ao invés do salto alto, uma roupa velha e aconchegante e observar pela janela os pingos caírem sobre as folhas das plantas que meu pai cultivava no pequeno jardim.
Na condução cheia, cuja viagem durava mais de hora para chegar ao seu destino, quase sempre fazendo esse percurso em pé até o ponto final, pois, o ônibus já vinha de Mogi das Cruzes quase lotado, ficava observando pela janela as paisagens que ali se descortinavam, agora molhadas, com as pessoas abrigadas sob os guarda-chuva ou capas, andando ligeiro e buscando escapar das poças d'água espalhadas pelo chão...
Durante o dia ouvindo os pingos da chuva baterem nos vidros da janela enquanto me envolvia no trabalho, que nesses dias parecia ser muito mais longo e cansativo, imaginava que podia estar correndo descalça acompanhando o rumo das águas que seguiam fartas pelas beiras das guias das calçadas, deixando a imaginação fluir sem rumo, sendo simplesmente feliz...
Muitas vezes vi e soube que a chuva causou prejuízos terríveis, destruindo casas, pontes, alagando plantações e nas cidades onde tudo é asfalto os estragos sempre são grandes e, ouvia da minha avó com sua voz que tinha um misto de duas línguas distintas o alemão e o português que com chuva não se brinca, afinal a força das águas é insuperável...
Morando num sítio vi a força da água descendo as encostas e levando tudo que encontrava pela frente, destruindo um açude como que empurra uma pedra de dominó...
Percebi o temor e o respeito que os animais agasalhados e cobertos tinham pela chuva, encolhidos e unidos, mesmo sendo de grupos diferentes.
O tempo passou e agora tenho a tranquilidade de poder ficar em casa quando dias frios e chuvosos se fazem presente, posso até mesmo me agasalhar enrolada num cobertor quentinho e ficar assistindo na televisão um filme agradável, tomando uma caneca de chá ou café ou até mesmo dormir, sem me preocupar com o trabalho ou qualquer outra atividade.
Agora quando o céu amanhece cinza e o dia mais frio, anunciando a chuva que logo chega, apesar de todo conforto que o tempo nos proporcionou, sinto uma tristeza pelos dias que vivemos reduzidos ao espaço de nossas casas e quintais ou talvez somente ao espaço restrito de apartamentos, onde o horizonte pode se esticar mais, mas não pode ser alcançado, a angústia e a tristeza toma conta de nós, pois, atualmente temos que ficar em casa guardados e seguros, para que não sejamos atingidos ou localizados por esse vírus que se encontra circulando por aí em busca dos incautos e até mesmo daqueles que necessitam ir para seus trabalhos e acabam tendo necessidade de se expor.
Apesar do difícil momento que vivemos, ainda vejo como são incríveis os dias chuvosos, que traz um cheiro especial de terra molhada, que permite a germinação das sementes e fico imaginando como seria bom correr pelas ruas, sem compromisso, sentindo as gotas de chuva suavemente molhar não só nosso corpo, mas também a nossa alma, aliviando de todo o peso que agora carregamos...