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Jornal Diário de Suzano - 25/04/2024
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Coluna

Nossas viagens

17 maio 2022 - 05h00

Amo passear, de trem (hoje só pequenos passeios turísticos em algumas cidades) com o barulho dos trilhos se tocando nas rodas metálicas e nos mostrando paisagens maravilhosas deste nosso rincão. Sou filha de pai interiorano e de família de ferroviários, então esse encanto é muito maior... Afinal dede pequena visitava meus tios no trabalho, nas cabines ferroviárias onde homens tratavam de fazer a liberação das linhas, seus desvios e suas junções, toda atenção era necessária, um descuido podia causar acidente grave...
Os admirava e, também convivia com aqueles que trabalhavam no interior dos vagões como bilheteiros e fiscais, um dos meus tios avós, por parte de mãe, descendente de alemães era muito alto e chamava a atenção por esse motivo... Lembro muito de sua figura esguia e alta, mais de dois metros, mas sempre com um sorriso nos lábios e muita educação no trato com as pessoas, as mesmas que veria durante longo tempo na viagem que era sempre longa com destino ao interior...
Crianças éramos atraídas pelo vagão restaurante, sempre limpo e organizado, onde podíamos fazer um lanche ou almoçar, além de saborear as guloseimas que eram oferecidas a preços módicos pelos funcionários do restaurante em nossos próprios vagões, depois, lógico de fazermos aquela cara de fome para nossos pais que sempre acabavam nos atendendo.
Ah! Íamos também à praia de trem, descendo a serra nos cabos de aço e cremalheira após Paranapiacaba, um encanto verdadeiro até chegarmos à estação de Santos, onde passávamos o dia nos divertindo muito, ao final do dia após muita algazarra, fazendo uso da cabine que papai havia alugado, tomávamos banho, colocávamos nossas roupas secas e mamãe se encarregava de colocar na sacola de lona embrulhada nas toalhas os maios ainda úmidos.
Voltávamos de ônibus, numa confortável viagem, muito mais rápida que a ida de trem, sem tantos encantos por voltarmos à noite, sem restaurante e guloseimas, mas tão confortável que nos permitia dormir após o dia cansativo de muita diversão.
Antes de possuir meu próprio veículo, o que demorou algum tempo, fiz muitas viagens para o interior, para o Rio de Janeiro e para o Sul, a maioria de ônibus, as viagens de trem estavam cada vez mais escassas, com roteiros cada vez menores... 
Morando na nossa região o meio mais rápido e eficiente de se chegar à capital era fazendo uso do subúrbio...
Quando pequena fiz inúmeras viagens de São Paulo para Mogi das Cruzes, de trem conduzido pela Maria Fumaça que às vezes lançava pequenas fagulhas e se não tivéssemos cuidado podiam causar algum estrago em nossas roupas que ficavam chamuscadas e até em nossa pele que sofria queimaduras tênues, mas era uma imensa diversão e ao final da viagem sabíamos que iríamos usufruir do carinho de nossa bisavó que residia num sítio naquela cidade e, principalmente das comidas gostosas e das deliciosas compotas que se encontravam alinhadas no alto do chamado guarda comida. No fogão de lenha sempre aceso crepitava um fogo gostoso de apreciar e sempre tinha uma água pronta para ferver e fazer um café que tomávamos com farinha de milho crocante... Saudades desses prazeres!
Hoje atravessamos o país pelas estradas de asfalto, normalmente dirigindo e pouco apreciamos das paisagens que continuam lindas e exuberantes ou das cidades que cresceram e se aproximaram dessas vias em busca do progresso...