A fotógrafa susanense que fez a foto do morador em situação de rua e é uma das ganhadoras do prêmio Nacional de Fotografia Cidadania em Foco, teve a sensibilidade que muitos de nós não temos ao passar por uma pessoa que vive pelas calçadas como se ali fosse um perfeito lugar para morar.
O normal é passarmos por essas pessoas com certo temor, sujos, cabelos desgrenhados, olhar aparentemente perdido, exalando um cheiro nada agradável, enrolados normalmente em cobertores encardidos, nos faz sentir inicialmente um sentimento de repulsa pela situação física degradante e até receio de alguma atitude que possa tomar contra nós, se nos aproximamos.
Não sabemos e não nos interessamos por sua história de vida, afinal, ninguém nasce para viver assim, certamente algo levou a pessoa para essa situação e a acomodação acaba sendo necessária, pois, são lembrados nas épocas frias, mas nos outros dias do ano permanecem em completo abandono.
Toda cidade atualmente tem inúmeras pessoas literalmente morando nas calçadas, nos bancos das praças, sob a marquise dos imóveis onde podem se abrigar da chuva e até da friagem noturna, tenso que acordar quando chegam os proprietários e vão abris seus negócios e normalmente os enxotam dali de maneira grosseira e até cruel.
Entendemos que os proprietários desses imóveis fiquem nervosos, pois, para dar atendimento aos seus serviços diários terão que higienizar a frente do estabelecimento e isso gera um acréscimo as suas despesas diárias com água, sabão e desinfetante.
Muitos desses moradores de rua vivem com seus animais de estimação, que também os acompanham na hora da alimentação espalhando os restos pelo chão e até mesmo sujando mais o local com fezes e urina.
Por todos os problemas que sempre visualizamos de pronto não nos permitimos enxergar por trás daquela figura escurecida pela sujeira um ser humano e vislumbrar ali o sofrimento de quem vive das sobras, da caridade de um ou outro e, que um dia teve um lar e que, certamente conheceu o prazer de um banho quente e roupas de cama limpas e do repouso e do repouso merecido.
Nunca questionamos o que aconteceu para que agora se sintam confortáveis dormindo no chão duro, sob os olhares críticos de quem passa e até mesmo reclama do mau cheiro e da sujeira, sem lançar um olhar mais profundo para o ser humano escondido sob aquele aspecto asqueroso.
O olhar dessa fotógrafa nos faz pensar nessas pessoas com um pouco mais de atenção, o título de sua fotografia "os pés que carregam o mundo" nos faz perceber que esses seres caminham a esmo pelas ruas da cidade, normalmente cabisbaixos, envoltos em seus cobertores e perdidos em seus próprios pensamentos, que sequer podemos imaginar quais sejam.
Certamente o estomago ronca reclamando o alimento que não chega faz tempo e por mais inacreditável que pareça, quando chega ainda é dividido com o amigo de quatro patas que não se preocupa com seu cheiro e aspecto desagradável, só é grato pelo amor que recebe e que retribui caminhando junto, acrescentando mais sujeira a esses pés que seguem caminhos diversos, observando o mundo que os rodeia em silêncio.
Parabéns pelo seu olhar humano que nos faz acordar e ver com outros olhos esses seres viventes que muitos não percebemos a existência.