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Jornal Diário de Suzano - 20/04/2024
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Coluna

Tempo de despedidas

01 setembro 2020 - 05h00
Durante a tarde de domingo, após um almoço simples em família, mas que sempre tem sabor especial imaginava sobre o que poderia escrever esta semana, onde estamos vendo que as pessoas já se veem livres de qualquer possibilidade de serem atacada por qualquer tipo de vírus, afinal o noticiário mostrava praias cheias, estradas movimentadas e as cidades do interior cheias de turistas.
No final do dia, iria pegar a estrada no sentido inverso, rumo ao litoral para cumprir um compromisso de trabalho no decorrer da semana e, assim que tudo se resolvesse já estaria preparando meu retorno para dentro de casa, lugar seguro e confortável.
Entretanto, nós pincelamos levemente nossos desejos e propósitos, mas o Senhor de todos os destinos escreve firmemente aquilo que deseja e só nos resta cumprir e aceitar...
E foi assim que, já me preparando para pegar a estrada, recebi uma ligação telefônica e, apesar da placidez no tom de voz, de imediato percebi que ali estava para me dar notícia nada alvissareira...
Respondi ao cumprimento, buscando manter a mesma aparente calma de minha interlocutora, mas já me preparando para o baque certo que me atingiria...
E, após saber como eu estava, se todos em casa estavam bem, com um perceptível embargo na voz me comunicou o falecimento de uma pessoa querida, uma tia muito próxima, acabara de fazer sua última viagem.
Minha voz parecia ter desaparecido, pois, por mais que me firmasse no intento de pronunciar alguma palavra, ela continuava embargada e eu mudo do lado de cá da linha, com milhões de pensamentos e lembranças passando na minha tela mental.
Enquanto buscava forças para responder, para perguntar como tinha acontecido, quando fora, se estavam bem, via passar pela minha mente as lembranças das conversas telefônicas, único meio de se manter próximo, de saber notícias num tempo tão estranho como este que estamos vivenciando...
Não lembro quais foram as minhas primeiras palavras, depois de um esforço magnânimo para emitir algum som, lembro somente da informação sobre o velório, sobre como estava o companheiro de uma vida toda, enquanto percebia que as palavras eram umedecidas pelas lágrimas que certamente corriam pelo rosto de minha interlocutora, assim como corriam pela minha face também.
Quão estranho é o nosso comportamento quando recebemos a notícia de que alguém seguiu em sua última viagem, em paz, enquanto dormia, após o almoço, após ter feito suas orações da tarde, num tempo em que todos os dias somos atingidos por uma partida que nos fere o coração.
A morte é a nossa única certeza nesta vida e, apesar de sabermos desse destino efetivo e certeiro, quando alguém se vai, nunca estamos preparados, sempre acreditamos que poderia ter ficado mais um tempo conosco, que não aproveitamos a companhia o suficiente, que a sua ausência será sentida profundamente e, sempre iremos lembrar que ainda ficou uma pergunta por fazer, uma abraço mais longo a ser dado, que poderíamos ter dito mais vezes o quanto era importante em nossa vida e quanto queríamos bem...
Essas partidas sem volta ainda são difíceis de entender, de aceitar, por mais esclarecimentos que tenhamos...