Enquanto muitos estão sem emprego, poucos trabalham muito. Vários dos desempregados e empregados alimentam-se mal, seja pela falta de dinheiro, seja pela falta de tempo para a alimentação adequada. De qualquer modo, nenhum dos dois motivos é suficiente para justificar a precariedade de educação alimentar que os serviços públicos tanto de educação quanto de saúde pode oferecer.
Frase comum, atribuída a Hipócrates, pai da medicina, mas que não sei ao certo se é dele mesmo, diz que "o homem é aquilo que come".
Há também o adágio popular: "o peixe morre pela boca". Neste caso há dois sentidos: o de que o peixe ao abrir a boca é fisgado pelo anzol e, portanto, é uma alegoria para dizer que é importante permanecer quieto e falar pouco; e o outro sentido em que o peixe, ao escolher mal seu alimento, é morto.
Na esteira de procurar alimentação boa e de baixo custo, encontrei um trabalho realizado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (NUPENS/USP) chamado "Viver bem é possível".
Trata-se de um folheto respaldado por pesquisa controlada realizada em dois bairros do Distrito do Grajaú, em São Paulo, envolvendo amostra de 80 famílias residentes.
A recomendação do estudo é simples: a vida pode ser mais saudável se forem ingeridas cinco porções de frutas, legumes e verduras por dia.
Segundo o estudo, introduzindo o princípio do "5 ao dia", ou seja, o princípio de ingerir cinco porções diárias de frutas, legumes e verduras, "na hora de fazer compras e de preparar as refeições, pode-se controlar melhor o peso e, assim, prevenir doenças do coração, da vesícula biliar, das articulações, diabetes e vários tipos de cânceres".
Em seguida, no folheto, há sugestões de cardápios: de manhã, um pedaço de mamão, ou uma maçã, ou uma banana; no almoço, uma salada de folhas, um legume refogado e uma fruta de sobremesa; no jantar uma verdura ou legume cozido.
Finalmente, são apresentados 5 motivos para amparar a ideia do "5 ao dia": ingerir frutas, legumes e verduras é saudável, pobre em calorias e rico em vitaminas, fibras e sais minerais; ajuda a controlar peso e prevenir doenças; é saboroso e colorido; é econômico; é simples.
Percebido de forma integral e não como ação exclusiva de uma secretaria governamental, uma ideia como a do "5 ao dia" sete dias por semana permite articular secretarias de saúde, educação, agricultura e desenvolvimento urbano. Permite pensar saúde como prevenção e cuidado e não como diagnóstico e cura; permite articular conteúdos escolares a partir da educação alimentar; permite diversificar o cardápio na alimentação escolar; permite a compostagem dos resíduos orgânicos transformando o que seria lixo em húmus; permite aproveitar terrenos baldios, transformando-os em hortas e pomares.
Que o homem seja o que come; que o peixe não morra pela boca; que "Cinco ao Dia" sete dias por semana seja mais que um trava-línguas, seja uma prática cotidiana.