Pensei lá em falar do tempo. Falar do “cronos”, o deus primordial do tempo, do tempo vivido. Que melhor, então, do que cronicar?
Isso mesmo: falar da “crônica”. Ou por outra, tratar dela como Substantivo ou como Adjetivo? Ou poderia ser sobre os dois aspectos? Se a gente pensar em algo alternativo, quem sabe, sobre uma alegria crônica? Ou tudo não seria mais que apenas um evento natural na vida da gente?
Bom, seja lá como for, o fato é que a crônica nos traz uma atenção especial, mesmo que, ou necessariamente, rápida, a uma nossa passagem por um fato, um evento, um instante, uma pessoa, algo ao nosso lado ou a nossa frente. O cronista busca comentar uma dessas suas passagens, um desses detalhes, que tantas vezes passam desapercebidos para o geral das pessoas.
Estava pensando nisso ao me lembrar de umas tantas composições do tempo pós-Bossa Nova, que hoje viraram clássicos. Para quem conhece, claro. Mas anosa juventude de hoje busca tão pouco acesso a uns tantos mestres populares de outros tempos. Que ficam longe de entendimento.
Pois é, então, como me desligar do aspecto poético, se minha vida circula sempre pelos poemas do olhar? Pensei especialmente nas composições do Edu Lobo. Tenho um livro encantador sobre ele: “Edu Lobo – são bonitas as canções. Uma Biografia Musical”, do Eric Nepomuceno, de 2014. Meu exemplar tem o autógrafo do Edu Lobo. Bem ilustrado, muito bem escrito, com certeza. Mas peca em não ter as letras, os poemas, do compositor.
Estava lembrando, que lá na minha juventude, onde o Edu Lobo se destacava naqueles “festivais da canção”, íamos para torcer por composições diversas. E como não lembra de muito tempo depois? Com outras composições do Edu Lobo que envolviam. “Beatriz”, me veio de imediato, em tanto de sua musicalidade. Ouçam! Ele compôs com vários outros, dos tantos musicais feitos com Chico Buarque e outros tantos versos e melodias com Tom Jobim.
E agora trago para vocês o poema de “Canto Triste”, feito junto com Vinicius de Moraes. Tentem ouvir sua melodia: “Porque sempre foste a primavera em minha vida/ Volta pra mim,/ Desponta novamente no meu canto,/ Eu te amo tanto...mais, te quero tanto mais/ Há quanto tempo faz, partiste./ Como a primavera que também te viu partir/ Sem um adeus sequer/ E nada existe mais em minha vida/ Como um carinho teu...como um silêncio teu/ Lembro um sorriso teu...tão triste/ Ah, Lua sem compaixão, sempre a vagar no céu/ Onde se esconde a minha bem-amada?/ Onde a minha namorada.../ Vai e diz a ela as minhas penas e que eu peço/ Peço apenas/ Que ela lembre as nossas horas de poesia,/ Das noites de paixão,/ E diz-lhe da saudade em que me viste/ Que estou sozinho.../ Que só existe meu canto triste.../ Na solidão”.
Se uns tantos mais jovens tiverem acesso a essa minha crônica, onde folheio outras leituras do mundo, peço que, sem preconceito, tentem sentir uma possível amplidão nesses trechos do Edu Lobo. Quem sabe possam ser introduzidos, não a um mundo de velhos, mas, a um mundo sem tempo da Arte.