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Jornal Diário de Suzano - 25/04/2024
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Coluna

Divagações e não

08 fevereiro 2019 - 22h59
Lá fora agora chove bem. Uma chuva boa, bem-vinda, depois do calorão que sofremos aqui na nossa terra temperada. E, um tanto antes, olhando pela janela, entre uma chuva e outra, vi uns mergulhos de andorinhas. É mesmo, não tem mais temporada de andorinha. Elas nos vem e elas se vão. Não vou entrar em discussão, pois bem, tem gente que sabe tudo e já disse que não há aquecimento global. É tudo imaginação. Está certo, o Acordo de Paris sobre o clima não deve impor normas. Está bem, nem vou perguntar onde anda a garoa que caracterizava São Paulo na minha infância. Seu sumiço é coisa normal... 
Olho mais pela janela. A Cidade se alonga no horizonte. Andando pelas ruas, como gosto de fazer, encontramos menos amigos, menos conhecidos. Sempre gostei de sair e sempre gostei de voltar a minha Cidade. Cada um deve ter o seu lugar. 
Um amigo me dizia, outro dia, como uma reclamação, que os cronistas de hoje só tratam de política e de economia. Não existem mais aquelas conversas mais livres com o leitor. Não se comenta mais a vida genérica, os nossos costumes. Imagino que ele sentia falta das divagações. Aquele jeito de escaparmos de um tema só e circularmos pela vida. Fui dar uma olhada nas crônicas por aí. Olhei para algumas minhas. Verdade, acho que ele tem mesmo um tanto de razão nas suas críticas. 
Parou de chover. As nuvens se afastam. As andorinhas circulam. Quanta velocidade a delas. Coisa encantadora. Vão nos levando para outros ares.
As escolas estão retomando seus andamentos. As férias escolares, que libertam também muitos pais, estão acabando. Os tais de duzentos dias letivos, que não são exigidos em todo o mundo, é bem coisa nossa, impõem um tanto de pressão às famílias. É como o horário das escolas de período integral, das sete da manhã às dezessete da tarde. Atende o período de trabalho dos pais, mas massacra os alunos, as crianças e os jovens. Cansados se aprende menos. Fora do nosso País também isso é diferente. 
Sobre a mesa o Poeta Neruda a que retomei a leitura, “O Livro das Perguntas”, bilíngue, de 1983, abro e me vem uns versos: “É verdade que as andorinhas/ vão se estabelecer na lua?// “Levarão a primavera/ tirando-a das cornijas?// “Se afastarão no outono/ as andorinhas da lua?”
Mais adiante encontro outra pergunta que o Neruda se põe e me impõe: “onde está o menino que fui/ segue dentro de mim ou se foi?”
Comemora-se a Internet. Legal! Mas ainda não perdi meu gosto por livro impresso em papel. Não sei ler um livro inteiro no computador. Não sou contra quem assim faz. Mas não é o meu jeito. Sei que as livrarias estão fechando. E que livros de poesia são ainda menos vendidos. Mas não consegui mudar aquele menino que levo dentro de mim. É verdade, acho que ele não se foi...
Tenho tentado voltar a desenhar. Um pouquinho dos meus bicos de pena. Você, meu caríssimo leitor, faz, usa de alguma expressão artística? Precisamos mesmo disso. É como olhamos o mundo que nos rodeia, como o sentimos, como ele se reflete em nós.
Quem circula faz digressão, não é mesmo?