Tudo me vem como um sonho. Lindo, porque sei foi virando realidade.
Faz muitos anos. E lá vou eu retomando memórias passadas... Pois é, se a gente pensa em enamorado, lembra de gente encantada. Que sonha em união, em seguir junto pelo tempo que vai se escorrendo em si. Isso é bem bom para todos.
E, retomando as memórias, como num filme, o que uma vontade de união define, a princípio, é que deve haver o amor unindo as duas pessoas. E, por amor, ou mesmo por paixão, que costuma ser bem vibrante, mas frágil em relação à resistência no tempo, esses sentimentos chamam, por vezes exigem, que as duas pessoas se juntem, ao longo do tempo que há por vir.
E nos conhecemos num sábado, 4 de outubro de 1969. Fomos convidados para “segurar vela”, como dizíamos na época para representar a companhia imposta pelos bons costumes de então para um casal que começava a namorar. Éramos, lembro bem, duas personalidades fortes, difíceis de se entenderem num primeiro encontro. Mas, por alguma razão, acabamos encontrando assuntos comuns que interessavam a ambos. E fomos nos reencontrando por mais uns dias. Eram dias difíceis. Eu tinha um papel significativo na liderança contra a Ditadura Militar. Ela, uma jovem universitária. Até que, uma quinzena depois, sofri um grave acidente, fiquei hospitalizado quase até o fim do ano. E minha família mudou-se para o Rio de Janeiro, enquanto ainda precisava de tratamento. Deixamos de nos ver.
Um dia vim a São Paulo e nos reencontramos, quase ano e meio depois. Sentimos então ter muito em comum, tanto, tanto. Acabamos retomando a construção do nosso próprio tempo. Namorávamos, em grande parte, à distância, eu vivendo no Rio e ela em São Paulo. Devagar começamos a caminhar juntos. Era agradável. Era muito bom. Como que retomávamos coisas boas já vividas e moldávamos coisas novas. Uns meses adiante, a 4 de julho de 1971, entendemos que precisávamos mais um do outro. Era um sábado, decidimos ficar juntos. Naquela noite fria em que voltava ao Rio, depois do nosso encontro, compramos e trocamos alianças de aço. Nosso compromisso devia ter um símbolo de força, de resistência. Os dias continuavam difíceis. As ameaças mais próximas.
Não sabíamos como seria a manhã do dia seguinte.
Num outro sábado, 4 de dezembro daquele mesmo ano, nos casamos, juntas as famílias. Juntos saímos do Brasil, por vários anos. A luta juntos continuou também lá fora. Foi difícil, mas vencemos. Uma luta estranha, estrangeira. Mas sentimos que crescemos. Juntos. Coincidências de datas? Imaginação? Sonho?
Voltamos ao Brasil juntos, com um filho, logo outra também chegaria. Continuamos lutando juntos. Vivendo nosso amor juntos. Crescendo juntos. Vitórias juntos. São muitos anos agora. Outros ainda virão. Sempre juntos. Compromisso de amor não se desfaz, é inquebrantável, como aço. Aliança de aço, sempre. Virou poema.
Feliz aniversário, querida! Obrigado por realizar esse sonho.