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Jornal Diário de Suzano - 25/04/2024
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Coluna

Floradas

23 agosto 2019 - 23h59
Chegando em casa. Tenho de fazer minha caminhada diária (Leu, Dra. Marcia?). Um frio danado lá fora. Mas pude ver bem a “Florada” na esquina. Lembrei dos versos que dediquei ao querido amigo-irmão Oswaldo Pansardi: “os ipês da minha rua/ silenciosamente/ vão cumprindo promessas/ renovando as surpresas/ abrindo as manhãs/ em brindes solenes/ dourando o frio agosto do meu dia” (do meu livro “Canto Meu Recanto”, 2004). 
A nossa flor símbolo, amarela, me iluminava. A Primavera vai mesmo chegar. 
Claro, passamos de um Verão nunca visto a um Inverno impactante. Tá bom! Verdade! Não existe aquecimento global. É erro nosso. Alguma culpa temos com a maior Amazônia. Quem sabe umas queimadinhas nos aquecem?
Sei que vivi muitos anos lá fora da minha Terrinha. Não esquecerei jamais isso. Mas sempre quis poder voltar. E nem sairia mais daqui. Se vou, quando consigo isso, cada vez mais raro, é só para ir e voltar logo. Era muito jovem. Hoje seria muito mais traumatizante. Sei que temos um enorme número de gente que quer mesmo escapar da nossa vida brasileira. É gente que nem sabe o que somos nós. Não conhece nem a história da sua cidade. Não se identifica. Nossos costumes são só o que aparece na televisão? Sei bem o quanto é fundamental isso, saber de nós. Coisa para atuarmos juntos. Sempre!
Lembrei de outros versos dedicados a “Pátria Minha”:
“não sou de chamar-te assim/ Patriazinha/ quando flutuas em meus outros tempos/ em que fizeste triste/ a minha quase-ilesa mocidade/ em que se ver-te não podia/ moldava minhas ironias amargas/ em que me dizia ausente/ mesmo que soubesse/ como te sabia/ uma pátria é o que somos/ crianças de todas as cores/ cidades monumentos mulheres/ são os velhos/ os bichos e as flores/ são os governos-momentos/ porque somos sebastianistas/ somos o que fizemos/ e o que deixamos/ o que nos deixamos fazer um dia” (Do meu livro “Sobre a Pele”, 2005). 
Ah, você não sabe o que é ser “sebastianista”? Ué, vai ter de dar uma pesquisadinha... 
Uma vez contei os tantos meses de Inverno que vivi fora da Pátria Minha. Tinha um saldo de muitas décadas. Não merecia mais padecer nenhuma semana de frio. 
Mas será mesmo que Inverno na gente é só mesmo quando o ar resfria? Ou será que podemos ter um Inverno bem mais forte, mais poderoso, dentro de nós?
Sofri o que agride um Poeta, perder os seus versos. 
Então, se nem todos os brasileiros são poetas? Eles não se sentem afetados? Ou, será que podemos nos ver sem conseguir produzir?
Disse algo assim. Será que aqueles “Invernos de Mim” estamos todos passando, mesmo de uma outra forma diversa?
“esquecia-me em invernos exilados/ depois de escapar quase sem danos/ dos olhos e das mãos inimigas// 
o verso surgia-me por vezes/ permanecia um tempo no peito/ nas minhas experiências estrangeiras//
deixava após que se afastasse/ nos seus passos silenciosos e lentos/ como um navio se distancia dos acenos//
não separei luta da vida e poesia/ o que o imaginário criava/ não conseguia escrever//
quanta poesia a restar congelada no ar” (do meu livro “Aprendiz de Encantamento”, 2012).
Temos de acreditar na Primavera. Já plantou seu ipê?