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Jornal Diário de Suzano - 19/04/2024
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Coluna

Hai-Kai

21 setembro 2018 - 23h59
A Primavera chegando, lembrei da cultura dos japoneses. Ela me chamou logo a atenção quando cheguei a São Paulo, em fins dos anos de 1950. Primeiro eram os bonés de basebol. Depois a comida e alguns hábitos. Tive namoradas japonesas ainda no Ensino Médio. Mas foi a Poesia que me marcou, em especial o “Haicai”.
Para falar disso, temos de ampliar com outras expressões além da abrasileirada “Haicai”, ou “Hai-Kai”, o “Hokku”, como a “Haiku”. Tentando sintetizar temos de reconhecer que essa forma de versificação remonta a tradição do Século XVII, no Japão, ou, segundos alguns, até bem mais distante no tempo. Hoje as interpretações são diversas no Brasil, como veremos adiante. Já há quem tudo simplifique com menos ou mais sílabas e menos ou mais versos.
Escrevo meus hai-kais há coisa de uns cinquenta anos, após descobrir as linhas dispostas pelo Mestre Bashô (1644-94). Mas sei de gente, mesmo em Suzano que já o usava como expressão há mais tempo que eu. Destaco o trabalho do Poeta susanense Kiyohei Yokota desde antes de 1960. Ao que sei ele elaborava seus Hai-Kais ilustrados e os repassava aos amigos que iam reelaborando segunda a tradição nipônica até retornar a ele. Aliás, Yokota é autor dos primeiros livros sobre Suzano, escritos em japonês, claro, com este mesmo nome, “Suzano N.1” (1961) e “Suzano N. 2” (1971) com seleções de poemas e fotos da Cidade.
O Hai-Kai estreia no Brasil por Monteiro Lobato, em 1906 que “traduz” seis poemas e publica em artigo intitulado “A Poesia Japonesa”, na gazeta “O Minarete”, de Pindamonhangaba. O primeiro poema, também ainda em japonês, redigido em nosso território foi de Shûhei Uetsuka (1876-1935), ainda no vapor “Kazato Maru”, pouco antes de atracar: “a nau imigrante/ chegando: vê-se lá no alto/ a cascata seca”. Mas foi o poeta Afrânio Peixoto que em 1919, estabeleceu a maneira brasileira de poetar o “Haicai”, como acaba se abrasileirando a expressão. Ele define que deveriam ter três versos, de cinco, sete e cinco sílabas poéticas, com dezessete sílabas métricas ao todo.
A verdade é que os Modernistas de 1922 vão se interessar pelo Haicai também. Mario de Andrade, como Oswald de Andrade e mesmo Carlos Drummond circularam pelo Haicai. A própria Revista Klaxon publicou esses poemas. Guilherme de Almeida também vai contribuir para o conhecimento e construção dos Haicais no Brasil pelos anos de 1940, talvez com um pouco mais de rigidez. Gente como Millor Fernandes e os concretistas Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari nas décadas de 1950 e 1960 vão desconstruir ainda mais o Haicai. E mais adiante Paulo Leminski (1983) nos trará algo ainda mais liberto. E Olga Savary contribui em 1983 nos trazendo o Mestre Bachô com a tradução de “Sendas de Oku”.
Tenho o lindo livro “Hai Kai – imagens para ver e sentir”, com xilos do Susumo Harada e versos de Vera Lucia Godoy Correia, que me encanta. E trago, mesmo sem tratar das estações do ano e dos sapos ou rãs, só para finalizar com um Haicai primaveril: “a vida me encanta/ ao ver o seu sobrevôo/ tudo é só magia”.
Abertos, aprendemos.