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Jornal Diário de Suzano - 25/04/2024
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Coluna

Justiça morosa

07 outubro 2019 - 23h59
Há quase cinco anos entrou em meu escritório um senhor vestido com simplicidade, havia deixado no jardim o seu meio de transporte, uma velha bicicleta... Sentou-se à minha frente e enquanto desdobrava uma porção de cópias de documentos me falava meio encabulado e com calma sobre o que pretendia.
Explicou que havia sido casado e já fazia alguns anos que a esposa o abandonara com duas filhas menores para criar. Hoje as duas já são adultas, uma casou e já lhe deu um neto. Dá esposa nunca mais teve notícias ou soube de seu paradeiro, recentemente a filha mais velha recebeu uma ligação da mãe que disse ter obtido o seu número de celular por intermédio de um parente, entretanto, não informou onde morava e pouco falou de sua vida atual.
Com as filhas criadas resolveu que já era tempo de refazer sua vida e para isso precisava do divórcio.
Não sabia onde se encontrava a esposa que o abandonara, e desde que saiu de sua casa nunca mais a vi, e mesmo assim acreditou que poderia conseguir obter o divórcio, afinal trouxe o nome de duas pessoas, suas vizinhas há anos, que poderiam confirmar o que falava, pois, morava na mesma casa desde o tempo em que a família convivia sob o mesmo teto.
Alegou que agora tinha uma companheira e ambos frequentavam a igreja e queriam viver com dignidade, para isso precisavam casar.
De posse dos documentos que me trouxe e da história que me contou, dei entrada no seu pedido de divórcio, juntei as declarações das testemunhas que o conheciam e sabiam do sumiço de sua esposa.
Busquei na internet, via redes sociais alguma informação sobre sua esposa, mas não obtive êxito.
A filha mais velha na tentativa de auxiliar o pai, numa das raras ligações de sua mãe, sempre com número privado, falou sobre o divórcio e pediu que ela me ligasse assim agilizava o processo e ambos ficariam livres de laços que não os interessava mais.
Tempos depois ela me ligou e, após esclarecimentos acabou me fornecendo seu endereço noutro Estado, dizendo que também tinha interesse no divórcio.
Juntei essas informações ao processo, acreditando que agora o processo tramitaria mais rapidamente. Ela foi citada, não respondeu e o tempo passou... Ela nunca mais me ligou e apesar de ter enviado até carta para ela, nunca mais entrou em contato.
Às vezes ele vem no escritório para saber do andamento do processo, prende a mesma bicicleta surrada no poste, como uma preciosidade, tira o boné e conversa comigo com a mesma calma de anos atrás... 
Fala da necessidade de regularizar sua situação com sua companheira, na igreja, enquanto não se casam, sentem-se mal, acreditam que não são abençoados e querem viver sob o mesmo teto, com orgulho do relacionamento que mantém.
Entretanto, não consigo dar uma resposta positiva, que alegre seu coração, pois, apesar de devidamente citada, a esposa não se manifestou no processo, mas, também não tenho uma decisão definitiva para o seu processo.
O acúmulo de trabalho, para poucos funcionários atrapalha o trâmite dos processos e delonga o sofrimento de muitas pessoas...