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Jornal Diário de Suzano - 23/04/2024
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Coluna

Maresia Gelada

13 janeiro 2018 - 05h00
Fiquei pensando na Poesia. Chove lá fora. Mesmo no Verão parece que sentimos um Inverno que nos toca. Paulista ama o Verão. Ama as Cidades de Verão. E sente que algo está contra ele se o Verão lhe escapa. Se paulista vai a Cidade de Praia ele vai à praia. Mesmo que chova. Chuva não cabe como impedimento, nem mesmo como limitação. 
Contudo o poeta paulista sabe sentir a provocação. Não chega a ser uma ameaça. E o "pretenso inverno" oferece espaço para a discussão, para a criação de propostas alternativas. E esse poeta, se é poeta, toda vez encontra as chances de criar. Assim se exige a sua Arte. 
A Poesia é uma forma de diálogo com a Vida. Mesmo que o diálogo seja com a própria Poesia. Verso frente a Verso. Mas sempre busca o Encontro. Uma satisfação.
A Poesia se oferece como um caminho a seguir, a subir, a se erguer. Mas não o impõe. E o Poeta pode ou não ascendê-lo.
Uma proposta não é necessariamente uma escolha.
Até porque sabemos que nem tudo se alcança. Temos de, ou podemos, tentar.
Lembrei de um poema meu de Inverno. 
E o que exatamente seria isso, um "Poema de Inverno"? Seria a perda do tema? A perda da musa? A perda do verso? Existiria maior solidão ao Poeta que a sua própria perda do verso, prisma que lhe é imprescindível?
Trago a vocês aqui, desta vez. Chama-se "Maresia Gelada". Pertence a meu livro recente, "PAISAGENS - Passeios pela Vida" (2017). Daqueles poemas que nos vem quando o mar nos chega frio. Ou quando nos falta aquela mão? Como traduzir tal sensação, tal emoção? 
"pois aqui estão meus dedos/solitários/talvez esquecidos/alongam-se pela minha imaginação/tentam chegar ao poema//
você sabe que eles existem/aparentam tranquilidade/a calma dos vulcões/aguardam o pousar suave dos versos/das suas distraídas mãos/você sempre chegava/lembro bem/iluminada em cada verso/quando você não mais veio/perdi o sorriso meu//
quando você não mais chegou/letra após letra/os sons escaparam-me dos dedos/tornei-me prisioneiro da sua ausência/nem sei mais do medo//
quando você não mais chegou/senti soprar um estranho aroma/que tenta tomar-me/e me envolve num ruído de nada/talvez tenha atravessado a janela/sinto restar-me no peito/só um espaço de esperança/ que emana do mar/não me aparte as suas lembranças/mesmo que você me escape/ nestas águas que se arriscam/ser apenas saudades//
quando você não mais chegou/abril enevoou até junho/ julho quedou-me vazio/perdi-me em meio a essa bruma//
quando você não mais chegou/restou-me uma noite infinda/nestas manhãs de maresia gelada/lacrimejando à vidraça//
por que não mais lhe consigo reter?"
O Inverno seria a perda do Amor? Ou um desencontro? Um sensação de solidão? O Verão seria plenamente o inverso disso? A Luz?!
E como garantir a Luz permanente no Verão do Poeta? 
Os caminhos se nos oferecem, nos surgem. Como saber qual a determinante escolha?
Não há como saber antes! Poesia!