Sempre que posso reparto com meus leitores um pouco do prazer que me proporciona o Jazz. Peguei para me acompanhar por esses dias de sol meio rarefeito, um livro de edição antiga, 1999, que tenho há um tempo: “New Jazz – De Volta para o Futuro”, do jornalista e músico Roberto Muggiati (Editora 34).
Gosto dos livros dele. Esse em especial, ainda que tenha lá seus vinte anos, traz boas reflexões de um Jazz que ainda anda por aí. Aqui o autor dá um destaque aos irmãos Marsalis, ao trompete de Wynton especialmente, mas também ao Branford, com suas contribuições ao novo Jazz americano.
Não há como nós brasileiros fingirmos desconhecer a importância e o significado do Jazz. Temos a Bossa Nova que é, inegavelmente, um marco do Jazz no mundo moderno contemporâneo. Alguns dirão que hoje é só Pablo e Anitta. Mas a marca da nossa Bossa está por tudo, mesmo que tantos nem se apercebam.
De vez em quando mergulho no YouTube, onde meu amigo, o fotógrafo e animador, Luis Felício tem um belo espaço a TV Fato. E lá retomo algumas apresentações incríveis, claro, destacadamente de Bossa Nova e outros, também influenciados. E acatando uma provocação do Muggiati, fui retomar uma cantora que amo faz muito, a linda Helen Merrill. Num dos capítulos do seu livro ele nos apela a observar, quem não conhece, também as cantoras brancas de Jazz dos anos 50 e 60. E Merrill é uma delas. Poderíamos só para recordar, ver gente como Doris Day, Peggy Lee, Rosemary Clooney, Julie London . Todas elas maravilhosas.
E lembre-se não estamos olvidando as divas negras, como Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan ou Dinah Washington. Todas essas são mestras inesquecíveis, cada uma a seu jeito todo especial. No Canal Art1 podemos ver com frequência algumas exibições de vídeos dessas cantoras. Destaque sempre para Ella Fitzgerald, que paralelamente a Sarah, exibe seu canto como instrumentos. Elaboram suas expressões de modo extremamente rigoroso.
Mas, voltando a Merrill, temos nessa loira algo tão especial que só víamos, e ouvíamos, com a emoção controlada da divina Billie Holiday, que aliás, quem já a ouviu cantar “Strange Fruit”, onde ela expõe dramaticamente os corpos suspensos nas árvores pela Klu Klux Klan, sabe do que estou falando.
Pois então, tente ver o vídeo da Merrill cantando “What’s New”, é algo formidável! Tentem assistir os dois e depois tire suas conclusões.
Não sei, nem creio, que a Merrill soubesse tanto de música e de fonologia para liberar cada vogal e consoante como destaca Muggiati. Mas é algo fenomenal. Examine isso no YouTube e depois me mande a sua impressão.
Aqui no Brasil, bem antes da Bossa Nova, lá pelo início dos anos de 1950, tivemos o retorno de Dick Farney, que já havia se lançado em Nova York, com seu piano jazzista e seu canto controlado. Antes do samba-canção, ele já oferecia a base do Jazz para o que viria ficar entre nós, com a Bossa e tudo o mais. É isso, gente! Jazz!