Lá no meu canto, colhia os versos que me permitia. Lembrei que a UNESCO, em 1999, escolheu o dia 14 de março como Dia Internacional da Poesia. Um dia? Uma noite? Ou todos os tempos como em meu canto?
Conheço gente que “não gosta” de Poesia. Tem gente medrosa em toda parte. Já imaginaram se tornam-se sensíveis? Capazes de entender e se juntar aos demais?
Olhei o horizonte. Minha cidade se estendia. Adiante “As Brumas”:
“saber é tão lento/ mas todos os dias agradeço/ cada nova oportunidade de aprender/ como um professor também/ vai aprendendo devagar a ser mestre/ um aluno leva seu tempo a descobrir/ ouvir e ver e entender o ensinado/ levei meu tempo mas aprendi/ que se a noite foi escura/ e se a manhã se desperta em brumas/ podemos ter certeza de que o sol vai brilhar/ forte e cheio de calor em nossa vida”
Na Poesia como dialogar senão escorrendo nas águas dos versos? Vivo minha vida. Cada um na sua história. Seus versos não se parecem com os meus? Então, “Digam”:
“digam a quem se dispuser a ouvir/ mas digam/ por favor/ não esqueçam//
digam que meu verso é modesto/ pequena a minha poesia/ a melodia sorri apenas/ mas digam/ preciso muito a mão a me afagar //
precisei guardar o silêncio/ por um longo tempo obscuro/ tive de lutar com outras armas/ por meus pares e valores/ até que os ares fossem diversos de então//
sei que outros antes já o pediram/ mas digam por favor/ não esqueçam/ digam à Poesia/ que não lhe darei vergonha não”
Nunca estamos sós. Precisamos repensar o que sentimos... Não nos afastemos dos que nos amam. Abramos caminhos. Sempre.
Juntemos nossos braços aos braços fraternos, aos braços paternos. “Família”:
“a família nos escolhe/ nos acolhe/ nos leva a ficar/ em nosso ser inteiro/ depois de sermos/ tornarmos a nós mesmos/ o todo que já fizemos//
repetimos o que tivemos/ agora escolhemos/ e acolhemos/ tornamos outros inteiros/ e outros/ e mais outros até se fazerem/ o que antes fizemos//
e assim por todo o tempo/ vamos sempre adiante//
o verso há de continuar”
Na vida da Poesia, somos um tanto de tudo, até “Pedra”:
“tomo a pedra/ qual o homem/ do construtor é a base/ ergo a parede/ a oficina e a casa/ ergo a loja e o templo//
ergo o corpo/ a minha postura/ minha atitude/ como eterno aprendiz/ ergo o trabalho/ a família e o país//
a base ainda bruta/ vou burilando/ até tornar-se polida/ assim justa e perfeita//
até que me permita/ a sombra da acácia/ desvendar a poesia”
Aprendemos e ensinamos, “Atrás das Borboletas”:
1.“melhor não é saber antes o sabor/ daquilo nunca apreendido/ mas sentir o gosto do risco de viver o instante//
2.por que temer abrir sendas no caminho?/ melhor costurar as margens dos rios/ lançando as pontes das suas mãos//
3.para ter afinal o resultado/ que nunca antes teve/ melhor fazer o que nunca fez//
4.por que correr atrás das borboletas?/ melhor cultivar o jardim/ elas sempre lhe buscarão nas flores”
Viva a Poesia.