Há quase uns quinze anos escrevi um estudo, com muitas páginas, sobre a postura que o brasileiro já expressava, a que denominei de “Relaxamento das Vontades”. Era um estudo complexo, de uma área com nome difícil para alguns, “Semiótica das Culturas”, a que fui introduzido pelo Mestre e querido amigo-irmão, Cidmar Teodoro Pais.
Pois eu lembrava que numa sociedade complexa como a nossa, precisamos estabelecer o Estado de modo formal. E esse Estado, Governo, Poder Público, ocorre do choque entre duas facetas sociais. De um lado temos a Vontade Social, que é a soma das vontades individuais, fundada na Crença Social de gente que deseja assumir responsabilidades na sociedade democrática. Em oposição a isso temos as Imposições Coletivas, que clamam por ordem pelo respeito aos direitos individuais e coletivos. Desse choque resulta o Estado Formal.
Mas ainda na sociedade em situação contraditória à Vontade Social, temos justamente o Relaxamento das Vontades da gente da sociedade. Ela é a Descrença Social. E em situação contraditória as Imposições Sociais temos o Vácuo do Poder Público, que é a Omissão ou Ausência do Estado.
Ante essas situações podemos ter resultados diversos nos choques de algumas delas. Se houver choque entre Imposições Públicas e Relaxamento das Vontades temos naturalmente a Ditadura, com o Estado permanente, impositivo, dominador, e o povo nem aí com o que acontece. Já vimos esse filme. Se tivermos o cheque entre Vontade Social e o Vácuo de Poder teremos resultante a Anarquia, que não é a bagunça, mas a Inexistência do Estado, onde cada um assume responsabilidade plena numa democracia direta. Nem cidade tem isso.
E se houver choque entre o Relaxamento das Vontades e o Vácuo do Poder teremos como resultado o Estado Informal, ou Paralelo. No geral a sociedade tende a ser o grande perdedor. Numa Comunidade onde o Estado (Poder Público) não comparece alguém assume o Poder, nem que seja o Traficante. Não existe vácuo de liderança. Numa sala de aula se o Professor não assume a sua liderança institucional o pior aluno pode assumir, com resultados previsíveis.
Mas vamos refletir um pouco sobre isso. Numa sociedade complexa como a nossa, com gente de Vontades Individuais e Coletivas, querendo o Bem, por que ocorre o aparecimento de tanto Relaxamento das Vontades? É por acaso, ou os Governantes, o Poder Público, o Estado Formal não fazem o que deviam, cortando especialmente Educação, ou desejam que isso ocorra para não terem contestações? Será que há contribuição de gente e organizações para fazerem exibições e ocuparem cargos no Estado Formal, num “Aparelhamento do Estado”, como propunha Lenine e depois Gramsci para a Esquerda, mas que hoje também ocorre para os que preferem a Direita? Ou ainda coalizões partidárias? Ou políticas só assistencialistas? E será que o Estado detém um opulento controle econômico, com dependência do empresariado, que só ganha se fornecer ao Estado? e asfixia do emprego? E absoluto domínio das amplíssimas receitas fiscais?