O início das aulas na Escola Estadual Raul Brasil, se deu, após professores, alunos e pais ter sido auxiliados por uma equipe pedagógica da Secretária Estadual de Educação a retomarem as atividades.
Não havia ânimo para voltar, após o atentado, nas salas, nem jeito para iniciar as aulas. No entanto precisava superar o extremo aborrecimento e os sentimentos de tristeza e consternação.
Dia 13, aconteceu o trágico atentado. Para criar uma situação mais favorável aos professore e aos alunos em seu retorno na Escola, foram convocados primeiro os professores que durante uma semana curtiram um clima de maior serenidade e um ar de conforto e bem-estar e após 12 dias do atentado, reiniciaram as aulas para os alunos.
Havia ainda alguém que entrou na Escola chorando, me contou a Diretora dona Sonia Aparecida dos Santos, responsável há mais de 18 anos da Escola, acompanhando os alunos do Fundamental II e do Ensino Médio.
Na quarta feira desta semana, dia 27 de março me encontrava na Escola Raul Brasil e vi os alunos que frequentam as aulas à tarde entrar pelo portão lateral, passando pelo pátio onde aconteceu o drama de vida e de morte, herdado como memória de um passado doloroso.
Alguns balançavam a cabeça como se ainda não conseguissem entender o porque daquela tragédia, na qual amigos e funcionários perderam a vida. Outros permaneciam no pátio em silêncio. Outros, de mão dadas, se sentiam mais seguros ao voltar na Escola. Outros ainda, pensando naquilo que aconteceu, pareciam avançar com um certo medo e tremor.
Os alunos enquanto não tocava a campainha, jogavam conversa fora, por isso, resolvi sentar-me no banquinho perto de uma sombrinha suave e gostosa e perguntar com tom emocionado e um pouco ofegante: “Vocês vieram voando à Escola ou com passos pesados?” Resposta; “Padre, nós ganhamos uma nova vida. Pensávamos que não tinha mais jeito para continuar as aulas nesta Escola. Mas agora, se Deus quiser, iremos com mais força e vontade para frente”.
A acolhida aos alunos, após 12 dias sem aulas, foi calorosa. Os docentes e funcionários acolheram os alunos com um sorriso que conseguia sacudir o rosto tenso dos alunos.
Eles voltaram à Escola porque tinham algo para aprender, pois o saber e o aprender nunca se esgotam.
Mas, sobre o dia 13 de março? Conversa fechada e pronto. Hoje estamos celebrando a vida e com simplicidade foi dado um pequeno passo e prestes será dado um passo gigante em vista da reconciliação com o sr. Miguel , pai de Luiz Henrique, homem de fé e de bons costumes, devoto de Nossa Senhora ;Aparecida. Ele persevera no silêncio e na oração, sem vontade de sair de casa, porque sofre simultaneamente à dor dos familiares que perderam seus entes queridos. Parece ouvir ele me dizer: “Sou cristão, meu irmão, mas estou triste e me interrogando porque meu filho fez tal coisa”. Irei visitar o casal sem nenhuma dura sentença contra o pai ou a mãe, porque a ação criminosa do filho não pode ofuscar a bondade tão grande do sr. Miguel.