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Jornal Diário de Suzano - 23/04/2024
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Coluna

Umas Tantas Histórias

03 maio 2019 - 23h59
Olhava o calendário, dia 1º de Maio, lembrando o aniversário do escritor José de Alencar, em 1829, virou Dia da Literatura Brasileira. Coisa da nossa História. 
Por falar nisso, os amigos muitas vezes brincam comigo quando conto umas histórias. E, sei lá, acho que a gente sempre tem uma para contar. Talvez a gente nem se lembre de todas elas, pois é, mas tantas vezes, elas estão lá no nosso fundo. E outros riem até mais ao saberem que muitas delas as teria mesmo vivenciado.
E por que toda história tem de ter sido vivida? E como contar exatamente como foi? Se cada pessoa vai contar do seu jeito? E cada um vai ler e interpretar a sua própria maneira? Tá complicado.
Numa troca de ideias com amigos, daquelas de jogar conversa fora, ouvimos umas tantas histórias. Quase sempre são daquelas que não lembramos no dia seguinte. Mas se lembramos em outra ocasião, também valem, sempre agregam ao encontro com amigos. 
Você já pensou nisso?, nesses encontros com amigos, como uma terapia? Não? Então pense, sim. Amigos são para a gente se soltar. Conte lá suas histórias. Jure sempre que são reais, como dizem os americanos no início dos filmes de ficção: “baseado em fatos reais”. O que, verdadeiramente, quer dizer “baseado”? Olha, juro que nem estou aqui falando daquela erva tanto proibida quanto consumida. Mas o tal de baseado permite tudo. Quer dizer, adaptamos do real. Ou seja, tudo é tirado do real, ainda que a gente tenha acrescentado algo a mais, né não?
Lembra daquele velho deitado? Ou será velho ditado? Coisa de gente antiga, que dizia assim: “quem conta um conto aumenta um ponto”. Caramba, todo cara que mexe, ou já mexeu, com literatura sabe disso. Coisa que vale para todo mundo, seja professor, seja escritor, ou seja, talvez o mais importante, o leitor. Todo mundo sabe que a gente pode até nem aumentar, mas apenas “ilustrar”, ou por outra, a gente pode “enriquecer” uma história, que ouviu, leu ou mesmo que entendeu. 
Já reparou que as gentes entendem o que nos contam de maneiras diferentes, de maneiras diversas, uns dos outros, dependendo da ocasião?
Lembro de um verso do poeta português Eugénio de Andrade, em que ele dizia que seu ofício era “juntar palavras”. Lembro também de ter ficado horas pensando sobre isso. Depois que a gente juntou, como separar? Por que separar?
O fim do homem talvez seja mesmo só se comunicar, encontrar linguagens, repassá-las aos outros, de modo que eles entendam e nos digam como as receberam, o que entenderam, como entenderam. Não seria essa a finalidade só do poeta, mas do ser humano, dividir com o outro o que sente, o que pensa, o que entende do mundo? Então, se a gente está aí só para misturar palavras (e elas já existiam bem antes de nós), o que nos resta é partilhar. 
Se quiserem podemos também pensar em poesia, que é uma coisa que não pode ser sintetizada, o poema já é a maior síntese possível de alguma coisa dita. Como poderia resumir um poema sem destruí-lo? E um poema, vamos reconhecer, também chega de modo diverso a cada um. 
Então, contemos nossas histórias.