Os dias frios vem passando sobre nós.
Liguei o som do carro. Entrou maravilhosamente o pianista de Jazz Bill Evans, em seu CD fantástico "You Must Believe In Spring". Logo na segunda faixa vem a música título do disco. Gosto muito da interpretação do Bill Evans com o canto de Tony Bennett, algo extraordinário os dois juntos. Mas lembrei logo da Barbra Streisend cantando essa música. Ela me impactava, impacta ainda.
O caminho continuando a passar, passando. 26 graus no interior do carro. Uma humidade lá fora. Estarão voltando as garoas?
O piano do Evans. E Barbra na lembrança.
Ela me veio à cabeça naquele filme do Sydney Pollack, drama de duas horas, com ela e o Robert Redford, "O Nosso Amor de Ontem". Com aquelas coisas que já se viveu e que passam, passaram. Algo assim, quando opostos se atraem na época da faculdade, Katie Morosky (Barbra Streisand), uma garota judia comunista, do tempo em que isso havia, conhece HubbellGardiner (Robert Redford), um protestante anglo-saxão, de família com grana. Anos depois da Segunda Guerra, eles se reencontram e, inversamente às suas diferenças, se casam. Hubbell quer ser roteirista e o dois se mudam para a Califórnia. Mas o ativismo da esposa pode colocar em risco a reputação do escritor.Época da perseguição macartista. E aí vai. Espere qualquer coisa, tudo e nada.Esse filme tem uma trilha sonora linda, com a música "The waywewere", de Marvin Hamlisch, como base, algo que significa "Do Jeito que a Gente Era".Pois é, a gente era assim. A gente muda, também.Sofri um acidente grave na juventude, há uns 50 anos. Separei-me da namorada. Um ano depois nos reencontramos. Juntamos tudo, com uma aliança de aço, não nos largamos mais. Outros tempos chegam. A Primavera há de vir. Preparem-se. Quem sabe mudemos esse nosso País...
Lembro disso, porque certa vez assisti um vídeo da Barbra cantando, justamente, "You Must Believe In Spring" e ao fundo passam cenas desse filme. Sou apaixonado por Jazz, e gente que faz Arte desse naipe me seduz. Essa música em particular me toca pelo seu jeito simples, de um metafórico sensível, com letra de Alan Bergman e música de Marilyn Bergman.
Sei lá, não gosto de ser pessimista. Arrumo esperanças, se não existem, eu as crio, por mais machucado que possa estar. Sinto que tenho de lutar. Como passar este exemplo aos demais? Especialmente aos brasileiros num tempo tão mesquinho? Temos de acreditar na Primavera!
Os versos dessa canção, que seguramente vocês, meus leitores, podem encontrar no YouTube, diz algo assim, numa tradução bem livre:
"Quando os sentimentos de solidão esfriam os campos de sua mente, esteja certo de que a Primavera vem logo atrás. Para uma árvore é certo que suas folhas reaparecerão, ela sabe que o vazio de agora é só questão de tempo. Você tem de acreditar no amor. E confiar que ele está a caminho, assim como quando o sono aumenta é porque aguarda o beijo do calor que virá. Assim como num mundo de neve, as coisas vão e vem, o que você acha que sabe não pode lhe dar certeza. Você deve acreditar na Primavera."
Há tanto que ainda nem surgiu. Tanto mais ainda pode vir. Temos de acreditar na Primavera.