Quanto mais vai passando o tempo pela gente, mais vamos juntando coisas, memórias, marcas, suaves ou não.
Abri o mediaplayer e puxei o Bill Evans, um pianista fantástico, especialmente para quem gosta e conhece jazz. Se não sabe nada dele dê uma olhada no YouTube, há muita coisa ali. Tudo instrumental. Tocou em gravações célebres com Miles Davis, o grande e revolucionário trompetista. Inclusive, só para acrescentar, se pode achar no YouTube vários vídeos com a interpretação de suas músicas. Tenho alguns de seus CDs. Gravei-os em meu PC para ouvir enquanto trabalho. Esse é meu jeito. Bill Evans é biscoito fino, mesmo. Bom também para quem gosta de trabalhar com música de fundo, sensacional.
Claro, peguei um álbum aleatoriamente, numa lista. E me veio a atenção nesse álbum sobre uma música maravilhosa, vejam que coisa, com o seguinte nome, “What are you doing the rest of your life?”, que pergunta “o que você fará do resto da sua vida?”, de autoria de Michel Legrand e Bergman, outros músicos incríveis. Uma belíssima melodia, aliás. Ela, ao piano de Evans, fica mais ainda introspectiva, mais meditativa, num crescendo, como dizem os músicos, numa somatória, dado por dado, onde as coisas vão se acumulando harmoniosamente. A letra diz dos anseios de um enamorado, querendo estar junto à pessoa amada pelo resto de sua vida.
Algo assim numa tradução meio livre de um trecho:
“O que você fará do resto da sua vida?/ Norte e Sul e/ Leste e Oeste da sua vida/ Só tenho um pedido de sua vida/ Que ela seja vivida comigo/ Todas as fases e todas as horas de seus dias/ Todos os níqueis e centavos de seu dia/ Permita que as razões e as rimas de seus dias/ Comecem e terminem comigo...”
Ela segue. Se quiser saber mais ouça cantada por Barbra Streisand, que me seduz também.
Tenho a felicidade de ter a quem dirigir esses versos. Mesmo com a minha idade e com os além de cinquenta anos juntos. Passamos muitas experiências juntos. Aprendemos muito. Lutamos juntos. Crescemos juntos.
Difíceis esses dois últimos anos para todos do nosso mundo. O mal agora ainda mais ampliado com uma guerra na Europa para também nos comover. E o que estamos fazendo, ou vamos fazer, com o resto de nossas vidas?
A vida é um vai e vem de ciclos, que se acumulam, que se repetem, como numa espiral, mas agimos como se fosse tudo numa sequência linear. Sei lá porque somos assim, mas somos. Talvez por que não gostemos de ver o mundo real, porque prefiramos um mundo imaginário.
Não acho que temos de nos “conformar” porque o mundo é assim. Ainda acho que temos de tentar melhorar o mundo para o ser humano. Mas, fui entendendo, e nem sempre foi sem alguma dor, que temos de aprender a aceitar o que não pode ser modificado, ao menos hoje, agora.
Numa realidade de ansiedade em que todos vivemos neste contraditório mundo temos de aprender a aceitar umas coisas aparentemente inaceitáveis e combatermos outras coisas até porque parecem palatáveis.
Êta mundico mais estranho, né não? Avante!
Que saibamos construir iluminados pela paz.