sexta 19 de abril de 2024Logo Rede DS Comunicação

Assine o Jornal impresso + Digital por menos de R$ 34,90 por mês, no plano anual.

Ler JornalAssine
Jornal Diário de Suzano - 19/04/2024
Envie seu vídeo(11) 4745-6900
Coluna

Desalento e Esperança

05 agosto 2020 - 23h59
Tem algumas notícias que me levam diretamente à música. Nesta semana, notícias de desalento e também de esperança me levaram a "O samba da bênção" de Baden Powell, Marcelo Peixoto e Vinícius de Moraes e também à "Apesar de Você" de Chico Buarque.
Em "O Samba da Bênção" me remeto especificamente a esses quatro versos: "Porque o samba é a tristeza que balança / E a tristeza tem sempre uma esperança / A tristeza tem sempre uma esperança / De um dia não ser mais triste não". Em "Apesar de Você" é o refrão que soa em minha memória: "Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia.
E por que essa memória? Pelo desalento das notícias e por uma vã esperança que me move, que nos move, apesar dos pesares. As notícias são diversas.
A Oxfam Brasil lançou em 27 de julho a Nota Informativa "Quem paga a conta? Taxar a riqueza para enfrentar a crise da Covid-19 na América Latina e Caribe" na qual denuncia a concentração de riqueza no período da pandemia. De acordo com a nota, "desde o princípio dos isolamentos, oito novos bilionários surgiram na América Latina e Caribe. As pessoas muito ricas aumentaram sua fortuna em US$ 48,2 bilhões desde março de 2020, o que equivale a um terço do total dos pacotes de estímulo de todos os países da região". Ainda segundo a nota, estima-se que "até 52 milhões de pessoas se tornarão pobres e 40 milhões perderão seus empregos este ano".
Como desgraça pouca é bobagem, o Brasil tem aumentado as emissões de gases de efeito estufa. Enquanto o mundo tem reduzido essas emissões, por conta da diminuição das atividades econômicas, o Brasil tem aumentado, mas por causa do desmatamento amazônico. Em 12 de junho, reportagem do jornal O Estado de São Paulo indicava a perda de 828,97 km² de floresta amazônica no mês de maio, ou seja, alta de 12,24% em relação a maio do ano passado, o que significa que, somente em maio, foram derrubadas em floresta na Amazônia o equivalente à metade da área da cidade de São Paulo.
Apesar de todo descalabro sobreposto, também chegam notícias de esperança, ou seja, de organizações da sociedade civil e de prefeituras que salvam vidas.
Da sociedade civil, a boa notícia vem da União de Moradores de Paraisópolis, via a rede G10 Favelas. A partir de iniciativa de seu presidente Gilson Rodrigues, a associação lidera a organização de comitês dos bairros, designa presidentes da rua, organiza a entrega de alimentos e itens de higiene. Como o SAMU não chega na favela, a associação contratou três ambulâncias com equipe de médicos, enfermeiros e socorristas. Também adaptou duas escolas estaduais para atendimento dos casos de covid não graves. Máscaras estão sendo produzidas por costureiras locais para serem distribuídas para os moradores, todos das favelas; diaristas que ficaram sem trabalho estão recebendo cestas básicas e ajuda de R$ 300,00 mensais; estão sendo feitas campanhas para estimular o comércio local.
Das prefeituras, vale conhecer a experiência de Maricá (RJ) na qual o governo desenvolveu um conjunto de ações despejando R$ 80 milhões na economia local, por meio da expansão de recursos financeiros que circulam por meio do cartão e da moeda comunitárias; antecipação do Abono Natalino para os beneficiários de políticas públicas de assistência e promoção sociais; distribuição de 24,4 mil cestas básicas; pagamento de um salário mínimo, por três meses a autônomos e informais, com recursos públicos municipais; abertura de linha de crédito de R$20 milhões para os empresários locais; e suspensão da cobrança do ISS fixo e do IPTU para idosos acima de 60 anos.
E assim, apesar do desalento frente à pandemia, aos maus governos, à concentração de renda e riqueza, às mortes e desemprego, há iniciativas que nos fazem manter aceso um fio de esperança.