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Jornal Diário de Suzano - 24/04/2024
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Coluna

Encontros

03 julho 2020 - 23h59
Disse o Poeta Vinicius de Moraes que, "a vida é a arte dos encontros, embora haja tantos desencontros pela vida". Posso reconhecer que tive, e tenho, muitos e bons encontros pela vida que me leva.
E as coincidências nos surgem para nos esforçarmos a entender que as coisas são organizadas. Um Senhor nos guia, mesmo que nem sempre entendamos completamente.
Sempre olhei adiante o meu caminho. E essa disposição sempre me foi especial. Nunca me senti nem mais nem melhor do que ninguém. Nunca precisei desse desvio de impressão. Talvez por isso possa ter seguido a frente e feito coisas de bem e que podia.
Há uns cinquenta anos, morava em São Paulo, e num dia 4 de outubro, encontrei uma menina. Nós fizemos o que naquele tempo chamávamos de "segurar vela", ou acompanhar amigos numa daquelas saidinhas de enamorados. A menina tinha personalidade forte. E como eu também, não discutimos porque não era o momento, mas percebemos que precisávamos continuar, saber mais um do outro. Ela era firme e sorridente, sem qualquer contradição nesses dois aspectos. Como ela de fato seria no seu dia a dia? Acho que ela também quis saber de mim. E nos reencontramos. Isso se deu. 
Em meados daquele mesmo mês sofri um acidente de carro muito grave. Com trágicas sequelas. Aquela menina me acompanhou. Depois do hospital fui morar longe, no Rio de Janeiro. E não nos vimos por pouco mais de um ano.
Um dia aqueles amigos da "vela", muito queridos, se casaram. E nos reencontramos no casamento, a menina e eu. Éramos estudantes universitários, os dois. Eu morava, estudava e trabalhava no Rio, mas decidi voltar a São Paulo sempre que pudesse. E voltamos a nos encontrar. Eram encontros nos fins de semana. 
Meses depois, sentimos que estávamos definitivamente ligados. E decidimos marcar aquele domingo, dia 4 de julho, com algum sinal que nos marcasse. Não era tempo, nem éramos do tipo, de tatuagem. Achamos, não uma joia aos demais, mas uma para nós, trocamos alianças de aço. Dias após escrevi um poema com esse título, que nos uniu definitivamente a partir de então. 
Um novo amanhecer se abria a nossa frente. Vislumbres poéticos.
"Amanhã Ser": 
"foi sim a janela fechada/ separando/ as minhas noites/ das noites do mundo/ foi a cadeira de palha/ olhando de frente/ a mesa pequena/ onde repousam/ uma caneta/ e uma carta inacabada//
Quem há de saber/ se não foi/ o meu cansaço/ de dias e dias/ em trabalho ingrato/ foi a sua fotografia/ três por quatro/ seria documental/ em minhas mãos/ mirando-nos/ ela e eu ambos estáticos/ Há de ser alguma coisa/ qualquer coisa/ tudo e nada/ sempre lembrando sua ausência//
E conto os segundos/ e imagino as horas primeiras/ da sua chegada// Não tarde amanheceu amiga/ É fim da noite é meu futuro/ A manhã é seu presente"
Muitos poemas e todos os meus livros de poesia foram a ela dedicados.
Fomos conversar com as nossas famílias. E no dia 4 de dezembro, desse mesmo ano, nos casamos. Tudo é parte de mim.
Obrigado.