Em 1908 os japoneses vem para o Brasil. Uma escolha muito especial. Foi algo precioso, pois acabamos nos tornando o país a mais recebê-los em todo o mundo. Ainda que com toda a diferença cultural dos dois povos.
Há coisa de uns cinquenta anos, vindo a Suzano, fiquei bastante surpreso em ver tantos “japoneses” pelas ruas da cidade. Era um destaque. Sei que os japoneses e seus descendentes, alcançaram uns trinta por cento da população local. E ocuparam pontos de destaque sociais e econômicos naqueles tempos. E hoje, como é natural, nos damos conta da cada vez maior miscigenação na região.
Quando escrevi o livro de história local, “Suzano – Estrada Real”, publicado em 1994, sendo o primeiro sobre a base de formação da Cidade, não pude deixar de reconhecer este tanto da altura atingida pelos japoneses aqui. Listei não só as famílias que primeiro chegaram aqui, mas também um tanto dos feitos, influências e marcos na cultura da nossa sociedade. Nesse livro foram cinco artigos, além de outros dados que se acrescentaram. Sem dúvida, os japoneses tem uma importância vital em Suzano, e isso tem de ser reconhecido, tem de ser comemorado.
Temos também muita gente a homenagear. Comecemos pelos descendentes da primeira família japonesa a se instalar em Suzano, os Haguihara. Jihei, o primeiro deles, chegou em março de 1921. Ele, então, era um jovem, nascido em 1899 na província de Shizuoka, aportando no Brasil no navio Wakasa-Maru. Iniciou o cultivo de morango, de um modo diferente do que se fazia aqui. Depois introduziu o cultivo do chá, coisa que se tornou algo bem prestigiado. Após também cultivou pêssego. Alguns de seus descendentes, trabalhadores respeitados, ainda estão em Suzano.
Muitos iniciaram na agricultura. Tantos ainda persistem. Mas foram abrindo-se portas pela força da sabedoria. E inúmeros filhos foram ocupando papeis de destaque na nossa sociedade, como médicos, engenheiros, arquitetos, advogados, professores. E, é claro, naturalmente foram assumindo postos na gestão pública, como concursados ou como eleitos, sejam como Vereadores ou mesmo como Prefeitos, desde o início da nossa autonomia, em 1949.
Mexendo na memória, me veio a lembrança de Kiyohei Yokoda. Tenho de marcá-lo aqui e agora necessariamente. Ele é autor dos primeiros livros publicados sobre a nossa Cidade, o “Suzano”, volumes I, II e III, uma “seleção de poesias”, com fotos antigas do nosso espaço. Sim, foram escritos em japonês. Recebi de presente de uma filha dele, a amiga querida, a colega Professora Harumi, já falecida. Consegui que um amigo iniciasse sua tradução, mas não pudemos levar adiante. Trago, um de seus poemas (1971), em dois versos:
“No mesmo sentido da vida/ às vezes indo no destino errado”.
Yokoda construía também na tradição antiga do hai-kai de circular entre leitores e possíveis poetas a refazerem. Isso em Suzano. Ele avançou.
Gente, tivemos a felicidade de mestres da cultura japonesa brilharem em nossa Cidade. Perdoem se é coisa de antigo, mas sinto saudades do grupo de dança Bon-Odori. Marcos a comemorar.