A Poesia é meu mar, onde mergulho, onde circulo, onde me alongo e me recolho. Estou chegando aos sessenta anos de navegação. E não pretendo, não vou parar. Quero mais.
Esta semana conversava com o filho de um amigo antigo sobre escritos. Ele é publicitário e mexe com composições, aprofundou seus estudos até o Mestrado, e virou músico. Ele foi avançando da leitura à escrita da Poesia. Chamou-me a atenção sobre versos meus, sensível, queria saber mais, fazer mais. É coisa de seguir construindo, leva tempo, temos de doar nosso tempo. E me falou de seu espanto com composições de Caetano Veloso, sem rima, com montagens da “desvairada” Poesia Concreta: “coisas impossíveis”, como me disse. Sei também dessas coisas, Caetano é um outro Mestre, que, vejo, alguns ainda nem entenderam. Mas Poesia e Criação são coisas próximas, devem, tem, de viver juntas. Não &eac ute; fácil? Isso é de outro departamento. Temos de ler muito, dar atenção a outras tantas montagens que se nos ofereçam. Mas, sei bem, persiste sendo onde quero continuar indo. Como se aprende? Construindo!
Comecei lá por 1963, muito marcado por modelos da minha infância, adolescência, como Olavo Bilac, com métrica, medindo cada verso, com rimas demarcadas nas estrofes. Meu tanto amarrado aos Sonetos. Mais adiante conheci Vinicius de Moraes, que também circulava pelos sonetos e escapou, indo bem mais adiante. Tenho ainda aquela Antologia desse Mestre. Ainda me toca. Mas até então me era complicado. Estava lá pelo Sul, em Porto Alegre quando me apresentaram a um Senhor Poeta, Mario Quintana, que foi me explicando umas coisas novas, como a importância da Metáfora e a Liberdade Métrica. Parecia complexo, escrever uma coisa para dizer outra. Muita coisa que me apavorava, como escrever versos sem torná-los prosa? Fui seguindo devagar. Ainda tenho uns tantos poemas daqueles tempos de antanho , que ainda conservo. Mas não tudo.
Fui estudando. No meu primeiro Mestrado fiz um trabalho da construção poética do imenso Mestre Eugénio de Andrade, o maior Poeta contemporâneo de Portugal, pouco conhecido no Brasil de hoje, que faz pouco completaria um século de vida. Foi o primeiro estudo acadêmico sobre a obra dele. O livro que estudei chama-se “Ostinato Rigore” (vejam que obstinado rigor é razão e emoção), lema do Leonardo da Vince, outro Grande Mestre, coisas inerentes à Poesia também como Arte. Ele escreveu todo o livro com apenas trezentas palavras diferentes.
Sempre que faço uma palestra leio alguns poemas, temos de juntar isso, razão e emoção, de que somos constituídos. Temos de deixar que os versos liberem as sensibilidades do leitor, do ouvinte, permitindo que ele avance no entendimento do mundo.
Raramente encontrei quem não gostasse de Poesia. Sei que nem tantos leem. É coisa que se aprende, não se nasce sabendo.
A Poesia nos vem com informação, com tempo. Também com carinho.
Não se negue. Experimente, vai gostar, mesmo sendo coisa lenta. Conto com sua força.