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Jornal Diário de Suzano - 18/04/2024
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Coluna

O Mar

02 outubro 2021 - 05h00

Desde pequeno viajei muito pelo mar. Aos meus seis anos fomos de Porto Alegre para Salvador, no então famoso navio “Itaimbé”. E também morei próximo ao oceano várias vezes, Porto Alegre fica na beira da água doce do Guaiba. Em Salvador encantava nas paiagens do pintor Pancetti, nosso vizinho, que me convidava para beber aquelas suas tênues cores marítimas. Aprendi a ver com outro olhar. Aí voltamos para o Rio de Janeiro, às praias do meu tempo, onde caminhava. E Niterói, apaixonante na minha passagem da infância para a adolescência, com bicicleta. Como um amigo dizia, em zombaria: “Niterói tem a melhor vista do Rio!” Mas para mim sempre foi linda. Após fomos para São Vicente, Santos e Guarujá, área que mui to ainda me envolve, mesmo nesses quase cinquenta anos dos 800 metros de serra suzanense.
O horizonte me vem nos versos de:
“O Mar”
“O mar ali a frente/ A ronronar seu balanço/ a me olhar nesta distância/ Só ele consegue me acalmar”
Sim, é verdade, dele, do mar, no mar, também me afastei de muitos, muitas vezes, até hoje. Mas sempre quis voltar a ver aquele horizonte ondulado. Não vou falar de outros mares longe do Brasil, ainda que penetrantes em minha mente, em minha pele sempre quis voltar à minha gente, “às minhas paisagens”.
Tive carta de navegador. Faz anos que não mais comando um barco. Permanece o encanto de comer os pescados ao lado daquele suave vinho rosé.
E sempre permanece o penetrante convite do mar.
O mar sempre exibe um caminho adiante. Como que de um certo modo nos solicita, nos chama, ele nos quer.
Ante o mar podemos ter um encontro. Sim, mas também uma possível triste despedida. Tive ambos.
O cais se oferece ante o mar. E sempre me recolheu, mesmo em tempos que o deixei ou vi ficar a causa da saudade que em mim seguia. Sempre restará em meu peito aquela visão do meu pai junto a minha mãe se distanciando. Eles parados naquele cais em seus acenos para mim. O meu pai eu não vi mais. Hoje sei que ele me protegeu de muitos perigos daquele mundo de então. Minha mãe orava sempre por mim, mesmo quando anos depois nos reencontramos. Por isso e mais eu acompanhei-a até quando chegou a sua vez de partir.
Sim, vivi outros tempos. Tristes tempos. Não há porquê repetí-los.
Coisa de há uns anos, veio-me em versos:
“Jamais”
“o mar jamais nos afasta/ encanta o eterno repetir marinho/ que doce chega a meus pés/ acarinha/ vem e vai//
adiante mostra a concha/ que se enrola sobre si mesma//
a sua poesia me questiona por quê/ não nos voltamos mais sobre nós mesmos/ olhar para dentro de si/ só um instante de silêncio/ a ouvir o sussurrar/ das vagas a se repetir/ e nos dizer/ suavemente liquidas/ o que o vento em nosso ser/ insiste/ sem que queiramos ouvir/ reconhecer/ perceber/ somos o que vive/ dentro de nós”
Por que não nos voltarmos sobre nós?
Sou dos que não abandonam a Esperança. Tudo pode melhorar. Podemos tudo mudar se mudarmos nosso jeito de olhar a frente o mar.