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Jornal Diário de Suzano - 23/04/2024
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Coluna

Revendo o Tempo

17 abril 2020 - 23h59
Tentei ver a luona vermelha de outono. Você viu? Não consegui, as nuvens cobriam todo o espaço da minha Cidade. Gostei das fotos na TV, a lua entre as torres da Catedral de Notre Dame de Paris. Coisa longe, distante. No tempo e de mim. Mas, como não reconhecer? que lindo! A natureza sempre encanta quando a deparamos, mesmo que, inicialmente, desatentos.
Estamos em tempos estranhos. Não nego. Mas os enfrento. A meu modo, nas minhas condições. E sei que podemos criar muito e bem. Esta semana, fiz uma faxina, meio geral, no meu escritório, ou “biblioteca”, como um amigo chamou, e que eu chamo de “estúdio”. Aí você avançando na limpeza retoma umas tantas coisas meio “olvidadas”, como essa palavra. Revi meu “Caderno de Anotações”, onde registrava meus poemas e emoções dos anos de 1960 e 1970. Preciso retomar uns textos por lá, tem coisa que ainda vale, que me diz seu tanto. Você está fazendo sua revisão? Pois devia. Redistribua seu tempo. Tem coisas de você de tempos anteriores que precisam de você hoje. Uns filmes, vídeos, músicas.
Uma foto me salta aos olhos. Uma rua de Campos do Jordão no Outono. Os plátanos amarelecidos. Lembranças!
É Outono agora?
Será que ele nos chega como estação das frutas? Pela vermelhidão das flores? Traria algo como o sentido do desapego? Vivenciei um tanto disso por anos, na Europa, numa avenida arborizada de plátanos. Florescentes na Primavera, se alongando pelo Verão, no amarelamento, envermelhamento das folhas no Outono e queda total nos galhos secos, cinzas pelo Inverno. Tempos vividos.
O equivalente por aqui são os chapéus-de-sol, como chamamos no Guarujá. As amendoeiras, ou castanheiras, como em Icaraí, Niterói, onde também morei. Suas folhas verdes, simples, mas abundantes, contrastam agradável com flores roxas que surgem nos meses de maio e junho. Antes disso as folhas começam a ficar amarelas e depois vermelhas, e também caem todas. Você lembra de seus outros tempos?
Então sigo, entre minhas coisas encontro aquela representante deste momento e dos que já vivi. Uma música. Nat King Cole, retomando minha adolescência. Cantando “Autumn Leaves” (Folhas de Outono). Criação de Joseph Kosma e Jacques Prévert (1945), em francês, mas sucesso em inglês, por Jonny Mercer (1947).
Vejam:
“The falling leaves drift by the window (folhas caindo flanam junto a janela)/ The autumn leaves of red and gold (As folhas do outono, vermelhas e douradas)/ I see your lips, the summer kisses (Vejo seus lábios, os beijos de verão)/ The sun-burned hands I used to hold (As mãos queimadas de Sol que eu costumava segurar)//
Since you went away the days grow long (Desde que você foi embora os dias ficaram longos)/ And soon I'll hear old winters song (E em breve ouvirei velhas canções de inverno)/
But I miss you most of all my darling (Mas eu sinto mais saudade de você, minha querida)/
When autumn leaves start to fall (Quando as folhas de outono começam a cair)”
Essas folhas vão embora. O Inverno já chega. Mas, é seguro, a Primavera vai, alegre, nos convidar ao Verão. Precisamos de um tanto mais de calma.