Um caminho não se recebe. Nem mesmo se você se submete à vontade de outro alguém. Você pode aceitar uma submissão, ou não. Se aceitar o que alguém impôs para você, esse aceite é uma escolha sua. Portanto você pode escolher se quer se submeter ou não.
O que me vem à mente, de imediato, são os versos do Poeta espanhol Antonio Machado do seu “Proverbios y Cantares XXIX” (“Campos de Castilla”), onde ele nos pas manifestações muito significativas, ali temos: “Caminante, no hay caminho,/ se hace caminho al andar”. O que significa algo assim: “caminhante, não existe caminho, se faz o caminho ao andar”. Então, é no nosso próprio avanço que construímos a nossa própria vida, o nosso caminho. As nossas escolhas de percurso marcam a nossa existência. Vale a pena refletir sobre isso.
Eu fui levado a escolher um novo modo de viver a minha vida por um fato impactante que me ocorreu.
Vivíamos na Europa quando minha mulher ficou grávida. Trabalhávamos, tínhamos assistência social e de saúde, isso não era um problema. Acompanhei-a na preparação do Pré-Natal. Achava que estava pronto. Mas o menino deu sinal de que chegava muito antes. Assisti o parto, sem desmaiar, como outros amigos meus. É algo de extrema força. Mas o bebê tinha peso, e Só tive de esperar tudo andar no seu jeito.
Até ali, naquela noite de nascimento, de luz, entendia no meu racionalismo que o mundo só podia ser mudado, transformado, se arrasássemos o que exista no presente. Uma “Revolução” só se faz se destruímos o que existe na realidade atual. Eu portava, havia vários anos, uma pulseira onde estava escrito “Delenda”. Tirei isso da expressão “Delenda Cartago” (“Destrua Cartago”), lá do tempo dos romanos. Acreditava em “Revolução”.
Ao ver aquele pequeno ser vivo, naquela noite, penetrando tão firme em minha vida, senti que tinha mesmo de rever meus entendimentos. Eu precisava aceitar a possível alternativa da “Reforma”. Sob essa outra visão não seria preciso destruir tudo para erguer o novo. Podíamos reconhecer como elementos possíveis de continuarem ao erguermos um mundo novo. Aquela vida ali, delicada, brilhando em minha frente, exigia uma transformação no meu percurso. Eu precisava mudar o meu andar. Teria de mudar o meu caminho.
Ao sair da maternidade, onde ficaram meu filho e a sua mãe, com segurança lancei longe de mim aquela pulseira que se fazia negativa ante o que vislumbrava adiante. Via claramente uma nova forma de enfrentar o mundo. Mudanças se faziam ainda necessárias, mas sem o radicalismo até ali por mim entendido. Aquela vida em minhas mãos exigia um novo caminho, tinha de refazer o meu andar, o meu caminho.
Mudei, sim.
O meu menino vai comemorando mais um ano. Obrigado a sua mãe por me marcar com sua presença. A mulher merece sempre o nosso respeito, nossa admiração. A minha tem também o meu amor. Obrigado por me abrirem mais caminhos.
Meu poema “Fruto” diz o tanto disso:
“não sou pai/ porque fiz meu filho/ sou/ porque meu filho me fez”.