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Jornal Diário de Suzano - 23/04/2024
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Coluna

Vida Artística

06 fevereiro 2021 - 05h00
Amigos pediram-me que desse algumas dicas sobre como se começar a vida artística, a ser escritor, poeta. Neste momento muita gente molda planos para se expressar pelas Artes. Como indicar caminhos?
Iniciei minha poesia, concretamente, por volta de 1965, em Porto Alegre. Por 1964 fiz uns tantos ensaios. Mas desconsiderei-os todos pouco depois. Tive a felicidade de ter um Mestre como Mario Quintana, que recebia estudantes no seu hotel e ouvia nossos textos, dava dicas, sem críticas duras. Estimulava. Mesmo eu amarrado à métrica, de que Quintana já se afastara. E quem me inspirava então era Vinicius de Moraes, com seus poemas de antes dos anos de 1940. 
Publiquei meu primeiro poema, um soneto, num jornal da Escola (Ensino Médio). Estava limitado pelo formalismo. Tenho coisas desse tempo, já tentando alterar ("Caderno de Anotações"). Num poema de então, tentei sair do rigor da métrica escrevi um "Quase Soneto". Vejam um tanto:
"Olhe tu, meu amigo, olhe firme/ O que me pretendes mostrar./ Não espere que a vida sempre rime,/ Ela vive a tudo contrastar.//
Não penses que te quero ferir/ E assim te fazer chorar./ Não, quero apenas te fazer sentir/ Que existimos não só para cantar.//...
Depois, já em São Paulo, em 1967, antes do vestibular, já ia saindo da exigência métrica, mas mantendo a rima. E fui ampliando a temática. Os três últimos livros que publiquei foram escritos com uma temática uniforme, diferenciada para cada um. Mas restos de poemas que se exibem a cada novo dia, persistem em pedir publicação. Esses dias selecionando uns tantos poemas ainda inéditos, pensando num livro futuro, quem sabe, ainda este ano, via que mantenho temáticas comuns. Por temática teria uns três ou quatro livros. Estou no caminho. O que vale é caminhar. Não desista!
Lia uns versos. Diziam sempre algo que nos afeta. O homem é o mesmo, sempre com ideias que o atinge, com sentimentos, com sensações, que o ataca. Por isso hoje textos de 200 anos ainda nos tocam.
Vejam esse poema: "Verdade" (revisado em 1967)
"O que há para cantar/ Não é um canto de alegria./ O que se deve cantar/ Não é um canto de tristeza./ É um canto sentido,/ Não um canto sofrido/ Com vontade de chorar,/ Mas que porte sentimento,/ Que seja sincero,/ Para não ser mentido./ Que não seja artificial,/ Pois seria vazio,/ Não dando significado/ Ao que dissesse./ É preciso a verdade./ Não a mentira encobrindo/ O que se faz./ Assim, só assim,/ Tudo terá validade."
Os dias se escorem das nossas mãos, gente. Nem sempre tudo podemos. Comecem a escrever, comecem a pintar, comecem a compor, façam a sua Arte! Todos temos a nossa. Temos de aprender e buscar dominar. O tempo se abre a nossa frente. Va até onde possa. 
Siga o seu percurso. Depois, na minha ausência, cada um de vocês escolhe e decide o que me cabe publicar. Só para isso, deixo mais uns versos: "Passamento":
"No meu canto recolho meus trapos/ Farrapos dum tempo feliz/ Que passou//
No meu pranto choro meu corpo/ Morto vazio da vida/ Que passou//
No meu manto descubro-me despido/ Vestido da nudez do homem/ Que passou"