Comecei a escrever poesia tinha lá meus 17 anos. Na época havia um certo preconceito. Diziam que isso de poesia era coisa de menina. Até que constatei que menina, de fato, gostava de poesia. E, se eu também gostava de menina, então, porque não agradá-las com uns tantos versos?
Quando eu era criança éramos orientados a decorávamos os poemas para declamarmos como tarefa escolar. "Minha terra tem palmeiras...", entre outras similares, eram aprendidas e repetidas. Mas na adolescência a coisa começava a mudar um pouco. Muitos professores nem se davam conta disso, é verdade.
Algumas obras primas da literatura podem ser inadequadas para alguns. Lembro de ter tido como tarefa a leitura de um livro que me pareceu estranho na ocasião. Tinha uns 11 anos.
O livro era um tal de "Dom Casmurro", do escritor Machado de Assis. A professora assegurava que o escritor era um gênio. Meu pai adorava o tal escritor, elogiando-o. Muitos achavam que era o maior escritor brasileiro. Comecei a ler o livro. Caramba, era muito chato. O autor falava e falava e falava e falava. Não entendi o livro, parecia não ter uma história.
Uns tempinhos depois tive acesso a um outro autor, fui chamado a ler um tal de José de Alencar. Li "O Gaúcho", parecia um livro de aventuras. Gostei muito. E acabei lendo outros livros de Alencar. Era divertido para um garoto da minha idade então.
Chegando ao Ensino Médio tive novamente indicada a leitura daquele tal de Machado de Assis. E me caiu na mão aquele mesmo "Dom Casmurro". Caramba! Era outro livro! Ou eu era alguém diferente? Eram poucos anos depois, mas a minha leitura era outra, sem dúvida. Adorei. Fui lendo tudo dele.
Leitura tem de ser prazer, que fique claro. Tem de mexer com a emoção.
Porém, tem de estar de acordo com a maturidade de cada leitor. Ele pode não entender, pode não sentir o que o autor tentou passar. Leitura não pode ser obrigatório, isso mata o leitor.
Quando garoto ao começar a ler um livro achava que tinha assumido o compromisso de ler todo o livro. Mesmo que ele fosse muito desgastante. Com o tempo aprendi que, se não havia obrigatoriedade de trabalho, ou algo assim, não precisaria me sentir com tal "dever".
Aprendi também que só pode dar quem tem o que dar. Se alguém não gosta de ler não tem como ensinar a ler. Só pode passar esse prazer quem o tem. Isso numa escola é fundamental estar claro, para quem aprende como para quem ensina. Todo aprendizado tem de ser sedutor, tem de envolver quem está ali para aprender. Isso vale para escola infantil, de adolescentes e de adultos, mesmo universidade. Professor, passe satisfação. Aluno tente sentir.
Já passei bem dos meus cinquenta anos de escrever poesia, desde 1963 gosto de escrever os meus versos. Em 1965 publiquei meu primeiro poema em jornal da escola. Minha escrita, minha construção poética mudou, certamente não é a mesma. No meu início eu era muito métrico, cheio de rimas.
Não é da mesma forma que leio hoje.
Ah, essa vida poética...