Nesse 8 de Junho, Dia Mundial dos Oceanos, aliás, tão abandonados como ambiente, retomei a feitura de uns poemas do livro que vou preparando: “Olhando o Mar”.
Trago aqui e agora a vocês meu leitores, antecipadamente, um poema desse tema que envolve tanto, “Voos de Gaivotas”:
“os dias mornos se estendiam/ nunca soubemos como/ nenhum de nós existia no tempo/ agora sei somente/ que você voava na alegria das gaivotas/ os seus dedos se alongavam/ pelas noites mar adentro/ o verão era de barcos que flanavam/ pássaros se embriagavam na sua aguardente/ e nos envolvia aquele vento/ doce amargo espalhar se impossíveis cantigas/ que me trazia malícia nos seus dentes//
“quando você não mais chegou/ a manhã despertou-se me estranha/ tudo desaparecia/ abril enevoou-se a beira dos montes/ maio passou-me um canto vazio/ junho quedou-se frio mais longo/ perdi me em meio a esta bruma cinza/ restou-me infinita esta noite/ a olhar–me tão profunda/ e a manter-me assim desperto/ o sopro do vento Leste no rosto/ e o cheiro desta gélida maresia//
“você não sente?”
O Mar e a Poesia nunca vão se separar. Da praia, olhando aquela imensidão de água, sentimos, sabemos que tudo o que vivemos tem um espaço infinitamente maior. A pesar dos que acreditam que a Terra é plana, a Poesia prefere sentir que o Sol é que mergulha no Mar, que o liquido se estende na sua amplitude.
Esse espaço adiante de quem olha o mar é mais dramático quando o que se afasta é um barco que leva um bem amado. Já vivenciei umas tantas vezes, em terra e no barco. Nem sempre é um passeio. Quem fica em terra vê o distanciamento se prolongar daquele ser de amor, levando como que uma parte de nós.
Quem está no barco que se afasta sente que o mundo se reduz, as pessoas que ficaram lá no porto vão se reduzindo em tamanho até desaparecerem.
Olhar o mar é ver que as vagas vão e vem sem parar, num vastíssimo sem fim. De algum modo isso também nos equilibra. Como se nos envolvesse a sensação de quem vai também há de voltar. Estranha esperança.
O oceano se alonga adiante no equilíbrio das suas ondulações. E nos traz companhia. Tantas são as gaivotas. Demonstrativo de que todo aquele espaço se faz com vida. No seu permanente ronronar o mar quer nos dizer e diz o que nem sempre nos apercebemos. As aves que sobre nós dialogam trazem indicações. Ah, que as linguagens por vezes nos parecem tão estranhas. Por tantas das vezes nos vemos solitários ante o mar, sem entender que tudo é vida.
Precisaríamos ter mais vontade de preservar o que se nos oferece aos olhos e às mãos. Acrescentamos tanto do inservível, destruindo irresponsável o mais de vida que poderíamos contribuir e criar.
O mar se exibe por vezes como absurda metáfora de que nem sempre nos damos conta. O mar se estende pelas estações. Cada uma em seu jeito. É parte do tanto que desejamos aos nossos amores.
O imenso Oceano está a nossa frente e está dentro de nós. Vamos nos proteger com a Vida que deve se alongar. Preservemos a nós mesmos.