Cultura

Teatro da Neura reapresenta ‘Antígona’ nesta segunda-feira

Espetáculo teve a primeira versão pelo Teatro da Neura em 2009 e encontra atualmente ligações fortes com a atual situação brasileira

8 SET 2018 • POR de Suzano • 15h28
Espetáculo teve a primeira versão pelo Teatro da Neura em 2009 - Michel Galiotto /Divulgação

Depois de uma reestreia de muito sucesso no Espaço N de Arte e Cultura durante o mês de julho, o Teatro da Neura volta a apresentar "Antígona" nesta segunda-feira (10), no Teatro Armando de Ré, às 20 horas, em Suzano. A bilheteria abrirá com uma hora de antecedência. O valor do ingresso é R$ 16 a inteira. O local tem capacidade máxima de 200 pessoas.

O espetáculo teve a primeira versão pelo Teatro da Neura em 2009 e encontra ligações fortes com a atual situação brasileira: um governo manipulador e autoritário, regido por um líder sem carisma e opressor, que usa de força para levar a cabo injustiças e elimina todos aqueles que podem destituí-lo do poder.

"Antígona" faz parte de uma das linguagens do Teatro da Neura - o Teatro e Sociedade - que, como explica o diretor da peça Fernandes Junior, tem como base o Teatro Épico do dramaturgo, poeta e militante alemão, Bertolt Brecht (1898-1956) que propunha como pesquisa um diálogo direto com a plateia e que estimulasse o pensamento crítico por meio de suas peças. Para Brecht, não será na emoção  que o público vai encontrar a diversão, mas na reflexão sobre os acontecimentos que o espetáculo relaciona com a realidade.

A relação do Teatro da Neura com o Teatro Político faz parte da construção do grupo.  “Diria que o Teatro Sociedade é um elemento típico do Teatro da Neura uma vez que ele usa os temas épicos para além das ferramentas que Brecht usava em suas peças”, comenta Júnior.

Peça

Ambientada em Tebas, um País em guerra e manipulado por Creonte, um líder autoritário e violento, Antígona luta contra todas as injustiças para enterrar o irmão morto em combate. Ao buscar apoio em sua irmã e no povo, encontra apatia e descaso. Ao enfrentar todas as leis impostas pelo líder de tebano e sepultar o irmão, enfrenta o fascismo, racismo, homofobia, xenofobia e feminicídio numa jornada que representa a luta coletiva por direitos e vai seguir sua fé pela justiça até o fim.

Tendo como base o poder da mídia como instrumento de tentativa de hegemonização do pensamento conservador, essa montagem de “Antígona” propõe a discussão de um Estado sem legitimidade e direção que, ao usar seu fantasioso poder contra seu povo, pode sucumbir se não perceber a tempo seu lugar na história.

Thaís Fernandes é atriz do Teatro da Neura há três anos e interpreta Antígona nessa remontagem. “Ela (Antígona) é muito combativa, muito justa, ela sai do campo da ideologia e age. E interpretar alguém assim nos dias de hoje, na era da passividade e de uma justiça seletiva, transita entre o encorajador e o necessário”, afirma.

A atriz reforça que mesmo o texto com mais de dois mil anos, está mais atual do que nunca. “O ato mais transformador pra mim ao longo da montagem foi conseguir ver a figura da Antígona na atualidade. No começo eu não conseguia. Hoje eu consigo ver pessoas que agem para mudar a realidade em que vivem. Temos grandes figuras que conseguem chegar ao nosso conhecimento, mas também temos as ‘heroínas’ invisíveis, líderes de bairro, pessoas que estão à frente dos movimentos sociais”.