Caderno D

Jornalista da região, Agnes Arruda faz estudo inédito sobre gordofobia

Ela vai defender tese sobre gordofobia em 17 de junho, na Universidade Paulista (Unip) Indianópolis, em São Paulo

7 JUN 2019 • POR Daniel Marques - de Suzano • 23h38
Jornalista Agnes Arruda fala sobre gordofobia - Bruna Nascimento/DS
A jornalista e professora da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), Agnes Arruda, defenderá a tese "O Peso e a Mídia: Uma autoetnografia da gordofobia sob o olhar da complexidade", feito sobre gordofobia (preconceito contra pessoas gordas), no próximo dia 17 de junho, às 9 horas, na Universidade Paulista (Unip) Indianópolis, em São Paulo.
 
Em entrevista ao DS, a jornalista, que fez estágio no Centro de Estudos Sociais (CES), em Coimbra, em Portugal, falou sobre a gordofobia e como a obesidade é tratada nos meios de comunicação.
 
Na tese, Agnes traça um paralelo contando uma série de vivências que teve na vida. Ela cruza sua narrativa pessoal com casos da mídia, confirmando a hipótese de que gordofobia está associada aos meios de comunicação. "Durante a minha vida fui gorda. Então senti na pele todo o dia. A gente escuta frases ao longo da vida de pessoas falando que 'é para o seu bem se você emagrecer'. Existem pessoas magras com casos de hipertensão, doenças cardíacas, diabetes, e essas pessoas não são abordadas", explica Agnes.
 
O estudo sobre gordofobia é pioneiro no Brasil. Segundo ela, são realizadas pesquisas sobre transtorno de imagem corporal e questões da obesidade, mas que não falam sobre o preconceito. 
 
Ela disse que a ideia de fazer a pesquisa surgiu após comentar com seu orientador sobre a gordofobia e ser questionada sobre o que seria o termo. "Não tinha noção que falaria sobre isso. Sempre trabalhei com mídia alternativa e comunicação dos marginalizados. Quando foi para identificar qual grupo eu iria trabalhar, conversei com meu orientador e perguntei sobre gordofobia. Ele perguntou o que era isso, e foi aí que eu percebi que as pessoas não conheciam esse termo", contou.
 
"Como todo preconceito, a gordofobia precisa ser combatida. Muita coisa se encaixa no bullying, mas nomear fica mais fácil para entender e combater", emendou.
 
Gordofobia na mídia
 
A jornalista disse que pessoas gordas são hostilizadas e tratadas de forma secundária na mídia. Segundo ela, os padrões da sociedade atrapalham até na contratação de novos funcionários em uma empresa. "Um exemplo é que em uma entrevista de emprego, o entrevistador admite que o gordo não é disciplinado, ou não tem força de vontade porque não faz uma dieta, quando há uma série de fatores que te podem fazer engordar, que não têm nada a ver com dieta", afirmou Agnes. 
 
Ela ainda falou que, historicamente, as pessoas gordas são retratadas na mídia sempre como descuidadas ou deprimidas, e que isso povoa o imaginário das pessoas e as faz pensarem que todas as pessoas gordas são assim. "Temos uma série de representações midiáticas dessas pessoas. As consequências do preconceito são devastadoras", lamentou.
 
Agnes completou contando como as pessoas gordas são tratadas na sociedade, e que muitas delas, recorrem até a dependência química para tentar emagrecer. 
 
"Entender que existe uma hostilização das pessoas gordas é importante. Algumas não saem de casa porque são xingadas, não encontram roupas para sair ou por vergonha do corpo. Já fui xingada de gorda na rua por quem eu nem conhecia", afirmou. 
 
"Algumas pessoas se viciam em crack ou álcool porque querem emagrecer", concluiu.