Segurança

Secretaria de Segurança de Suzano mapeia 60 pontos de pancadões

Discussões vão desde os questionamentos sobre a ação da polícia em vídeos que circularam pela internet

8 DEZ 2019 • POR Daniel Marques - de Suzano • 00h04
CPAM-12 monitora pontos de pancadões em toda a região - Sabrina Silva/DS
A tragédia ocorrida há uma semana no baile funk conhecido como Dz7, em Paraisópolis, Zona Sul de São Paulo, abriu uma série de discussões sobre esse tipo de festa. A região não tem incidência de bailes como esse, porque a Polícia Militar atua na prevenção desse tipo de festa. É isso que diz o comandante do Policiamento de Área Metropolitano (CPA-M12), coronel Wagner Tadeu da Silva Prado.
 
No entanto, segundo levantamento feito pelo DS com as cinco cidades mais populosas do Alto Tietê, 64 casos foram registrados em 2019. A Secretarai de Segurança Cidadã informou que são 60 mapeados em Suzano. Mogi das Cruzes e Ferraz não registraram bailes funk, os chamados “pancadões”. (Leia matéria abaixo)
 
Certo ou errado
 
As discussões vão desde os questionamentos sobre a ação da polícia em vídeos que circularam pela internet sobre o caso de Paraisópolis até a necessidade da realização desses eventos. Para parte da população, a "falta de opções de lazer para a comunidade" justifica a existência dos bailes funk. Por outro lado, a polícia aponta uma série de delitos praticados nessas festas, como consumo de bebidas alcoólicas por menores, uso de entorpecentes, motos e carros roubados e a prática de sexo nas ruas.
 
O coronel Prado afirmou que quando um local é identificado como propício a receber um pancadão na região, a ação que a polícia adota é de ocupar, a fim de impedir a prática dos crimes. "Mesmo assim, uma vez ou outra acontece, mas não se assemelha a Paraisópolis e outros bairros de São Paulo", disse o coronel Prado.
 
Restabelecer ordem
 
Ele também se posicionou sobre o caso ocorrido no último final de semana em Paraisópolis, onde nove jovens, com idades entre 14 e 23 anos, teriam morrido pisoteados após intervenção da Polícia Militar no local. Duas das vítimas fatais eram de Mogi. O comandante afirma que o papel da polícia é restabelecer a ordem pública que for quebrada. Ele lamenta as mortes, mas diz que poderiam ter sido evitadas se outros atores cumprissem seu papel. "A bomba estourou no colo da polícia, mas e as famílias daqueles jovens, sabiam que eles estavam lá?", questiona o coronel. "Lamentamos as mortes que aconteceram, mas teriam sido evitadas se outros atores cumprissem seu papel. Tem que ser apurado (o caso), mas não é só a policia que tem responsabilidade", emendou o coronel, que também pediu fiscalização em comércios.
 
Espaços públicos
 
Para organizar eventos como esses e evitar o uso de veículos e motos roubados, o coronel Prado sugeriu o uso de espaços públicos, que poderiam ser alugados pelas prefeituras. No entanto, ele teme que uma ideia como essa possa não dar certo, já que "não é interessante para o crime". "Eles não vão poder usar motos roubadas e carros roubados para baderna", opina.
 
Maior incidência ocorre no Boa Vista na Região Norte
 
A Prefeitura de Suzano registrou 60 casos de bailes funk, os chamados “pancadões” no período de janeiro a agosto de 2019. Segundo a Secretaria de Segurança Cidadã, não houve detenção de nenhuma pessoa por parte das autoridades suzanenses, devido à promoção desses eventos. 
 
As ocorrências têm maior incidência no Boa Vista, região Norte da cidade. Em 2019, foram aplicadas três advertências e cinco multas.
 
A Prefeitura informa que a Guarda Civil Municipal (GCM) monitora páginas na internet para identificar eventos deste tipo e destaca que as equipes estão preparadas e qualificadas para “intervir em situações que fujam à normalidade”.
 
São 64 casos registrados nas cinco cidades mais populosas do Alto Tietê. Até o fechamento da reportagem, a Prefeitura de Itaquaquecetuba não havia respondido aos questionamentos feitos.
 
A Prefeitura de Poá registrou quatro casos de pancadões em 2019. Segundo a administração poaense, não existem pontos fixos para a realização desses eventos.
 
A Secretaria de Segurança da cidade monitora os locais por meio de denúncias, reclamações e eventos marcados em redes sociais, para atuar antes da realização das festas. O trabalho é feito com apoio da Guarda Civil Municipal (GCM) e em conjunto com as polícias Civil e Militar.
 
Consultadas, as prefeituras de Mogi das Cruzes e Ferraz de Vasconcelos informaram que não registraram casos neste ano.
 
A Secretaria Municipal de Segurança de Mogi das Cruzes informou que não há eventos semelhantes aos realizados na cidade de São Paulo e que a GCM da cidade, junto com a Polícia Militar, entram em ação quando recebem informações referentes à aglomeração de pessoas com consumo e tráfico de drogas.
 
Em Ferraz, existe um trabalho preventivo intenso realizado pela GCM, com monitoramento e atendimento às ocorrências de perturbação, orientando, responsabilizando e autuando infratores antes de virar pancadões. A multa pode chegar à R$ 10 mil.
 
Em Mogi, 217 pessoas foram autuadas por desrespeito à Lei do Silêncio no período de janeiro a outubro de 2019. No mesmo período, a GCM de Ferraz registrou 161 casos de perturbação de sossego no ano.
 
Até o fechamento da reportagem, as prefeituras de Poá, Suzano e Itaquá não haviam enviado dados de casos de perturbação de sossego.
 
Moradores temem bailes de rua com fim de ano
 
Moradores do Jardim Cacique, em Suzano, um dos bairros onde ocorrem os "pancadões" no fim de ano, temem pela falta de paz nas datas comemorativas que se aproximam.
 
Com medo de se identificar, os moradores relatam que as festas são mais frequentes no mês de dezembro, quando motos sem escapamento e carros com caixas de som altas tiram o sono das pessoas que moram no bairro.
 
"A gente tem medo de falar porque tem muitos envolvidos e muitas coisas ruins. Tem todo o fim de ano. O barulho atrapalha muito. A polícia passou a prevenir, mas a aproximação do fim de ano provoca medo", conta um morador.
 
Uma comerciante do bairro detalha o cenário de um baile funk que acontece próximo à sua casa. “É muito forte (o barulho). Muitas motos, som muito alto nos carros e outras coisas que não podemos falar. E eles (os participantes) costumam ficar em esquinas. A gente não tem Natal nem Ano Novo aqui”, lamenta.
 
“No Facebook, os moradores ficam se comunicando e perguntando qual rua tem mais barulho. É um inferno. A polícia vem, assusta, mas depois eles voltam. É difícil controlar”, emenda a comerciante.
 
Um morador, que também não quis se identificar, sugere que outras áreas sejam usadas para esse tipo de evento, como o Estádio Municipal Francisco Marques Figueira, o Suzanão. Ele pede a permanência da polícia no bairro. “Estamos preocupados, porque cada residência aqui tem idoso. Essa área não é apropriada para isso. Se (os policiais) espantarem e forem embora, eles (participantes) voltam. São uns 10 carros de som, e treme a janela toda”, diz o morador.