Cidades

Ambulantes veem nas ruas uma maneira de driblar o desemprego

Dificuldades de conseguir trabalho e necessidades fazem chefes de família buscarem saídas

19 SET 2021 • POR Thiago Caetano - de Suzano • 14h00
Vendedores ambulantes buscam opção para enfrentar o desemprego - Regiane Bento/DS
Água, doces, carregadores de celular e até capas para volantes. As opções são diversas. Em meio ao desemprego e as dificuldades para conseguir um trabalho, sobretudo neste período da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), os vendedores ambulantes veem nas ruas de Suzano uma saída para driblar as dificuldades. Além da falta de oportunidade, a necessidade obriga os vendedores ambulantes, em sua maioria chefes de famílias, a buscarem outras saídas.
 
“É uma rotina difícil, mas consigo lidar tranquilamente. Estou acostumado”, disse João de Oliveira Santos, de 54 anos. Pai de 6 filhos, ele vende diversos produtos na rua há 23 anos. Tudo começou após perder seu emprego. Ele até foi atrás de outro, mas não teve outra oportunidade. A saída encontrada foi trabalhar vendendo doce no trem, onde ficou por 7 anos. Neste período, ele começou a vender os produtos nas ruas da cidade.
 
“Faço isso com muito orgulho. Tenho conseguido me manter, graças a Deus. Não me sinto humilhado. Faço isso por mim. Trabalho com honestidade”, ressaltou.
 
O desrespeito por parte dos motoristas é uma das barreiras que o ambulante supera todos os dias. Oliveira ignora e prefere focar nas boas pessoas que também encontra em sua rotina. “Mesmo com o desrespeito de algumas pessoas eu consigo lidar bem com essa rotina. Lidamos com muitas situações. Mas muitos nos ajudam também”.
 
Oliveira também tentou se aventurar na política. Chegou a ser candidato a vereador em Suzano. Era conhecido como ‘Pato-Rouco’. Mas não obteve êxito na tentativa. 
 
José Ferreira de 56 anos também decidiu trabalhar nas ruas por causa da dificuldade em arranjar um emprego. Hoje ele vende balas no semáforo. 
 
“Quando fiquei desempregado é que decidi trabalhar na rua. O segredo é não ficar parado”, afirmou Ferreira. Ele é pai de 4 filhos, motivo pelo qual Ferreira não desiste “Ficamos entre os carros. É perigoso, mas preciso arranjar uma saída. Não posso parar de lutar”, conta.
 
Gerson Pereira de Souza diz que, apesar da rotina difícil, tem conseguido sustentar seus três filhos. 
 
Uma das principais dificuldades relatadas é a visão distorcida que muitos têm dos vendedores ambulantes.
 
“Aqui nós vendemos de tudo. A única coisa que não fazemos é roubar. Infelizmente muitos pensam errado de nós”, lamentou.
 
Apesar de estar bem, ele ainda não desistiu de conseguir um trabalho. Ele continua entregando currículo, mas até o momento não obteve sucesso. Fato que não desanima o vendedor. A fé é sua maior aliada. “Deus é bom o tempo todo. Graças a ele eu tenho conseguido me sustentar. Ainda entrego currículos, porém está difícil conseguir um trabalho. Trabalhei com muita coisa, mas aprendi a trabalhar na rua”.
 
Sandra Emília, de 34 anos, era promotora antes do início da pandemia. Com o avanço dela, Sandra perdeu o emprego. Se a missão de arrumar um emprego não era simples, a pandemia dificultou ainda mais. Por isso, ela optou em vender paçocas nas ruas. Ela é mãe de uma menina de 11 anos. “Chego aqui por volta das 8 horas e só vou embora à tarde. Fico embaixo de sol e chuva. É bastante cansativo. Mas precisamos saber nos virar. Não esperava passar por isso, mas graças a Deus eu tenho vendido bem”, relata.
 
Em outro ponto da cidade, o paraibano Lucas Afonso Bezerra, de 58 anos, procura cuidar do espaço onde trabalha. Ele é pai de uma menina e chega a vender até R$ 120,00 dependendo do dia. Além da falta de oportunidade, a idade pesa contra o vendedor. Ele chegou a trabalhar como garçom em São Paulo e hoje vende água nos semáforos. “Nem esquento mais a cabeça com isso. Na minha idade ninguém vai contratar. Mas estou bem e gosto de trabalhar na rua”.
 
Ele lamenta o estereótipo que os vendedores ambulantes carregam. “Não somos bandidos. Infelizmente essa não é a visão das outras pessoas. São poucas que nos respeitam”.
 
Romualdo Colasso da Silva, de 35 anos, garante conseguir suprir suas necessidades. Ele vende panos de pratos no mesmo local que Bezerra. Ele pretende continuar atuando nas ruas da cidade. “Consigo suprir as necessidades. A pandemia dificultou bastante, mas me acostumei. Faço meu próprio horário. Pretendo continuar nessa luta”, finalizou.