Reportagem especial

Em Imperatriz-MA, quebradeiras de coco mantêm tradição ancestral e ganham apoio da empresa Suzano

Companhia apresentou projetos socioambientais

13 OUT 2025 • POR Edgar Leite - enviado especial a Imperatriz-MA • 20h57
Em Imperatriz-MA, quebradeiras de coco mantêm tradição ancestral e ganham apoio da empresa Suzano - Edgar Leite/DS

Sentadas no chão, elas manejam com destreza e muita habilidade o ‘tacape’ de madeira. São batidas fortes em direção à lâmina da machadinha apoiada às pernas. O trabalho artesanal é penoso e, por vezes, perigoso. O objetivo é retirar amêndoas do coco babaçu, fruto da palmeira nativa da região Norte e áreas do Cerrado, cuja concentração está nos estados do Maranhão, Pará e Tocantins. 

O método é ancestral e as quebradeiras de coco babaçu querem manter o direito de preservar a tradição. 

A luta dessas mulheres de origem quilombola, afrodescendente e indígena garante a sobrevivência, mas vai além da habilidade de quebrar cocos. É quase um ritual, muitas vezes, embalado às cantigas com letras de trabalho e resistência que retratam a vida, a luta pela preservação dos babaçuais e a valorização do trabalho.

De cada fruto são retiradas em média quatro amêndoas. O coco pode ser transformado em óleo, usado na fabricação de cosméticos e sabonetes. Também é possível fabricar bolos, doces e outros alimentos. A casca pode ser usada na fabricação de carvão e a palha das palmeiras pode ser trabalhada em cestos e outros artesanatos. O óleo vegetal em demanda crescente também é mandado para a indústria cosmética e de alimentos. Nada é desperdiçado. Não é incomum perceber cicatrizes nas mãos e nos dedos das mulheres.

Amêndoas são retiradas do coco babaçu - (Foto: Edgar Leite/DS)

Em 2022, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) chegou a desenvolver uma máquina para quebrar o coco com custo de cerca de R$ 1 mil. “Não deu certo. A máquina quebrava o coco e a amêndoa. Então devolvemos”, disse Terezinha de Souza Cruz, quebradeira de coco-babaçu. Ela faz parte da comunidade situada na Estrada do Arroz, em Imperatriz do Maranhão, onde é desenvolvido o projeto Pindowa, do qual o DS visitou na semana passada. O objetivo do projeto é promover o desenvolvimento sustentável, valorizar o reconhecimento das comunidades locais e garantir a preservação dos recursos naturais.

Enquanto o DS esteve na comunidade, as quebradeiras de coco Zuleide Pereira de Souza, Rosimar Pereira da Silva e Maricelia Monteiro da Silva demonstraram o processo de retirada da amêndoa em meio à cantiga entoada por Terezinha.

A presidente da Cooperativa dos Extrativistas e Agricultores Familiares da Estrada do Arroz (Coopeafe), Bárbara Pereira, e coordenadora do Projeto Pindowa, afirma que a iniciativa foi um divisor de águas. “O Pindowa abre portas e novas oportunidades”, comenta.

Hoje, o extrativismo do coco-babaçu é a principal fonte de renda das famílias da comunidade de Coquelândia e o Pindowa incentiva atividades produtivas com o objetivo de preservar as práticas originárias da cultura tradicional, proporcionando às famílias impactadas, empoderamento, autonomia e reconhecimento.

Apoio e financiamento da Suzano

O projeto tem apoio e financiamento da Suzano após a chegada a Imperatriz do Maranhão, em 2014, com inauguração de nova fábrica para gerar 1,7 milhão de toneladas de celulose anuais. A empresa - que expande suas áreas de plantio - abraçou o projeto e deu condições de ampliação. A iniciativa já tem quase 5 mil participantes.

O projeto Pindowa, por exemplo, incentiva as atividades produtivas de populações dos estados do Maranhão e do Tocantins que trabalham com extrativismo. 

Sede da Suzano em Imperatriz-MA foi inaugurada em 2014 - (Foto: Edgar Leite/DS)

A vice-presidente da Cooperativa do Pindowa, Mauriana da Rocha Sobrinho, conta que os sabonetes produzidos no projeto são exportados até para fora do Brasil e gerou interesse de uma empresa de cosméticos. “O apoio da Suzano tem sido importante em todo o processo de parceria”, disse.

A consultora de extrativismo sustentável da Suzano, Márcia Alves Varanda, é quilombola e se especializou em sustentabilidade, bioeconomia e gestão estratégica de projetos com foco no desenvolvimento socioeconômico de comunidades na Amazônia e no Cerrado. Ela afirma que a empresa tem buscado fortalecer parcerias para atuar junto com os projetos. “É muito importante promover arranjos territoriais para promover o desenvolvimento socioeconômico sustentável”. A gerente-executiva de Sustentabilidade da Suzano, Clara Cruz, afirma que a relação com as comunidades é importante. “A Suzano busca dar o protagonismo para as próprias comunidades para que se desenvolva criando negócios mais prósperos para as famílias”, disse.

Associação Frei Tadeu desenvolve projeto Sumaúma

Com sede em Ribamar Fiquene (Maranhão), a 70 quilômetros da Unidade da Suzano em Imperatriz, está localizada a Associação Frei Tadeu. A entidade desenvolve o projeto Sumaúma Sustentável, apoiado pela empresa.

O projeto promove a geração de renda e inclusão produtiva para famílias em situação de vulnerabilidade econômica do município e de seu entorno.

O apoio direto da Suzano se iniciou neste ano e os impactos serão medidos ao longo de sua execução.

Associação Freu Tadeu também tem apoio da Empresa Suzano - (Foto: Edgar Leite/DS)

Mais de 600 pessoas, segundo a empresa, são beneficiadas com o projeto, que busca fomentar o empreendedorismo rural por meio de cursos de culinária e produção sustentável de queijos artesanais, derivados da apicultura e meliponicultura.

Tudo isso garante ganhos de curto prazo com a produção de hortaliças. A atuação do Sumaúma se dá em três eixos principais: capacitação, produção e comercialização.

Os recursos para a implementação do projeto são de uma parceria entre a Suzano e uma entidade italiana, a Sofidel. Nesse trabalho seis diferentes projetos são desenvolvidos na região da Amazônia-Cerrado, conectando o potencial de investimentos sociais, tanto da empresa, quanto da sua cadeia de valor.

“Nesse projeto trouxemos vários cursos livres de empreendedorismo, salgados, pães, que pudessem agregar valores às famílias”, explica a coordenadora do projeto Sumaúma e vice-presidente da Associação Frei Tadeu, Joucelita Rolim Facundes.

A representante da Associação Frei Tadeu, a italiana Luigia Gottoli, está há 28 anos no Brasil. Ela conheceu Frei Tadeu e falou da importância do Sumaúna para as famílias. “Trabalhei oito anos diretamente com ele. Depois foi dado continuidade. Objetivo é ajudar as famílias a crescer, ter autonomia e independência financeira”, disse.

A conselheira da associação, Maria do Socorro Carvalho Oliveira Fernandes, também conheceu Frei Tadeu. Para ela, a missão da entidade é dar continuidade ao trabalho social do religioso e garantir sustento e autonomia financeira às famílias.

Parcerias da empresa elevam PIB e garantem geração de renda

A gigante Suzano, maior produtora mundial de celulose, apresentou números positivos desde sua chegada à Fábrica em Imperatriz no Maranhão, em 2014, sendo o principal deles, o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) em 71% daquele município, cerca de R$ 1,5 bilhão em recursos e parcerias com 637 fornecedores locais.

O Diário de Suzano desembarcou na terça-feira passada (7 de outubro) para conhecer a nova fábrica, em Imperatriz, e os projetos sociais e de sustentabilidade em parceria com comunidades extrativistas da região, na divisa com o Tocantins. O jornal visitou espaços de sustentabilidade, fez um tour pela fábrica, acompanhou o funcionamento do projeto de proteção e combate a incêndios florestais. Entrevistou famílias de comunidades extrativistas dos projetos da Associação Frei Tadeu, do projeto Pindowa e finalmente esteve na Fazenda da Natividade (no meio da Floresta Amazônica), recém adquirida pela Suzano com objetivo de promover a plantação de eucalipto na produção de celulose, além de promover preservação ambiental. 

A empresa colhe matérias-primas de seus cultivos de eucalipto e afirma exercer um papel na vida de famílias locais, de comunidades, a partir do momento em que amplia sua presença.
Para isso, há todo um trabalho de “impacto de vizinhança”, entre a empresa e comunidades extrativistas, para evitar conflitos, expropriação, desmatamento, contaminação de solo, danos às estradas e rios. 

“Quando realizamos os estudos técnicos na parte de produtividade (da área), em paralelo é feita toda a diligência imobiliária do imóvel”, explicou a gerente de Operações Florestais na Suzano, Marina Valin. O especialista em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) de Manejo Florestal na Suzano, Alzemar Veroneze, afirma que todo o cuidado da empresa evita, por exemplo, grilagem de terra. “A Suzano se cerca com todo levantamento da documentação e cuidado.Todas as propriedades adquiridas ou arrendadas, ou que participam de programas da Suzano são criteriosamente avaliadas”, afirmou. A Suzano só planta em áreas que já foram antropizadas (transformada pela ação humana, com alteração de sua vegetação, solo e relevo) antes de 2008 e com licença ambiental. O grande esforço é que desenvolvimento econômico, preservação ambiental e inclusão social caminhem juntos.