A produção industrial caiu 3,5% em março em relação a igual mês de 2014, um recorde histórico. É a 13ª queda consecutiva nesta comparação, uma sequência negativa inédita na série iniciada em janeiro de 2003, informou, ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quadro supera até mesmo o período da crise internacional, quando houve 12 recuos seguidos na atividade. Nem os três dias úteis a mais no mês em 2015 (em função de o carnaval de 2014 ter sido celebrado em março) tiraram a atividade do vermelho. Com isso, a indústria brasileira fechou o primeiro trimestre com o pior desempenho para o período desde 2009, ano da crise. Na comparação com fevereiro, a produção diminuiu 0,8%, o pior resultado para um mês de março desde 2006 na comparação com meses imediatamente anteriores. "Desde setembro de 2014, a trajetória é muito clara em termos de redução da produção da indústria. Todos os fatores permanecem, desde o baixo nível de confiança do empresário, do consumidor, até a evolução mais lenta da demanda doméstica, passando pelo cenário adverso do mercado internacional", afirmou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE. Neste início de ano, a mudança na política de desoneração da folha de pagamento também interferiu na confiança e, consequentemente, na atividade, avaliou o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato. Com um nível de estoques acima do habitual e sem perspectivas de recuperação no curto prazo, ele prevê que as demissões no setor continuem. "A indústria, que já demitiu, vai continuar a demitir e isso afeta a confiança também do consumidor, que se sente desmotivado a consumir", disse. A produção industrial deve encerrar 2015 com a quarta retração anual seguida. Na projeção da economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour, a perda deve ficar em 4,5% neste ano. "Acredito que isso (recuperação) só ocorrerá a partir de 2016, depois de adotada uma agenda de reformas, entre elas o avanço das concessões públicas em projetos de infraestrutura", destacou. A retração da indústria foi disseminada entre todas as categorias, com destaque para bens de capital e bens de consumo duráveis, puxados pela atividade de veículos, que registrou a sexta queda seguida na comparação com o mês imediatamente anterior. No período, o setor acumulou perda de 19,4%.