Essa crônica vai aos amigos, tentando repartir um pouco de mim. Um jovem me perguntou o que eu sentia ao completar tantos anos fazendo Poesia. Só respondi: "Ainda não pensei nisso". Não lembro a data, foi no primeiro semestre de 1965, publicado um poema meu no Jornal do Colégio Júlio de Castilho, uma espécie de escola pública modelo em Porto Alegre. Estava no Colegial, equivalente ao Ensino Médio. Gostava de Matemática, mas conclui o Clássico, para os cursos de Ciências Humanas no Instituto Fernão Dias, em Pinheiros, São Paulo, outra escola pública modelo então. Lembro que comecei a me ligar em poesia porque isso interessava à meninas. Coisa bem importante para um adolescente, permitam-me. E fui escrevendo poemas formais, com métrica, até sonetos tentava fazer. Ainda tenho um caderno de anotações com poemas aí dos anos de 1960. Influência maior era de Bilac, inicialmente, Parnasiano, que meu pai gostava. Mas já fui mexendo com os Simbolistas. E cheguei aos contemporâneos, Vinicius e Quintana. Mas ainda com poemas métricos. Fui então levado a conhecer Mario Quintana, ainda em Porto Alegre, que nós, aprendizes de poetas, adorávamos. Ele lia os nossos textos. Não criticava. Dava dicas. Indicava direções. Era para nós um sábio, víamos como um filósofo, as vezes até mais do que um poeta. Depois, discutíamos entre nós as ironias, ou metáforas dele, nem sempre claras para todos nós. Não foi tão fácil começar a escrever em versos livres. Sempre tive muito receio de não chegar a fazer versos, mas apenas prosa "dividida em pedaços". Como há demais por aí. Certamente, por isso me ligo tanto às metáforas poéticas. Quando em 1997 publiquei minha primeira Antologia, "Páginas e Paisagens", juntei meus poemas em três livros. Dividi os poemas em temáticas, não seguindo suas cronologias. E não publiquei tudo o que já havia escrito, foi uma bem reduzida seleção. E continuo assim. Nem tudo o que escrevo publico. Seleciono bastante ainda. Minha Antologia atual se saísse, mesmo assim, teria bem mais de trezentas páginas, com seleções de poemas, e talvez não chegasse a uns quinhentos ao todo. É impossível não mudar sua obra dentro do tempo. Tenho mudado menos nos últimos dez ou quinze anos. A grande constatação que faço é que o grande poema é o ser humano, mesmo com suas imperfeições. E quero dialogar com a própria Poesia. Hoje sei que não é o poeta, mas o leitor, que determina o significado do verso. Como sei que tenho ainda muito a fazer. Conto ter condições dentro do tempo.
Suami Paula de Azevedo.