Uma rotina de reclusão e horários controlados. Esse era o dia-a-dia dos suspeitos de integrar uma guerrilha, Óscar Luis Benítez e Lorenzo Gonzáles. Eles foram presos nesta sexta-feira (24) pela Polícia Federal, sob a suspeita de participar do sequestro e morte da filha do ex-presidente paraguaio Raul Cubas em 2005. A dupla era procurada, inclusive, pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol). O DS foi ao local e entrevistou a vizinhança.
O clima no bairro, depois de saber sobre a prisão dos guerrilheiros, não mudou. A ida e vinda de pessoas para buscar os filhos numa escola infantil, na mesma via, ou descer para ir a uma clínica de fisioterapia também continua a mesma de todos os dias.
Mas, apesar da calmaria, o sentimento de perplexidade era mais evidente em pessoas que moravam próximas à residência na qual os guerrilheiros foram detidos. Sob a condição de anônimato e questões de segurança, a reportagem optou por não divulgar o nome dos entrevistados.
Ao DS, os vizinhos contam o que viam ou percebiam, em relação aos hábitos dos suspeitos. De dia, a única movimentação da casa era de Benítez e Gonzáles, que saíam de carro. Logo voltavam e estacionavam o veículo. Sacolas eram tiradas do porta-malas, e colocadas dentro do imóvel. Somente saíriam novamente horas depois, agora, para ficarem sentados na calçada ou no quintal.
Aos domingos, geralmente durante a manhã, a única pessoa vista saindo da casa era uma mulher na companhia de uma criança - de aproximadamente 2 anos. Elas andavam pela calçada e ficavam observando a linha férrea, que fica nos fundos do imóvel.
Porém, a estranheza da vizinhança ocorria durante a noite. Um caminhão parava em frente, e logo pessoas desciam e entravam no imóvel carregando caixas. O conteúdo nem sempre era possível ser visto. Numa dessas descargas, máquinas de costura foram entregues. O entrevistado, que não será identificado por motivos de segurança, falou que as entregas reduziram neste último mês. "Foram poucas vezes que vi. Antes era mais frequente. Eles vinham, paravam e logo desciam com caixas. Depois iam embora. Achava estranho, porém, eles nunca demonstraram nenhum problema", disse.
Nesta visita ao bairro, a reportagem flagrou apenas três pessoas sentadas no quintal. Com o semblante de tristeza, eles conversavam pouco e mantinham um olhar de incerteza.