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Região

Padre indígena celebra missas na região, dá aulas e tem pós-doutorado

Valmir dos Santos Batalha, tem 51 anos de idade; nasceu no município de Mata Grande, Estado de Alagoas

17 abril 2021 - 23h30Por Edgar Leite - da Região
Na aldeia indígena ele é Acauã Pipipã, mas na Igreja Nossa Senhora Aparecida, em Ferraz de Vasconcelos, é o padre Valmir Batalha. Na sala de aula, além de professor de Sociologia, Filosofia e História, é pós-doutor e pesquisador. Em seus muitos papéis, também criou o canal "Brasil, Cultura Invisível", no Youtube, para mostrar a cultura indígena que muitos só conhecem mesmo pelos livros de história.
 
Valmir dos Santos Batalha, tem 51 anos de idade. Nasceu no município de Mata Grande, Estado de Alagoas, no sítio Engenho. 
 
A infância foi normal, mas morando numa zona rural, ainda muito cedo, começou a trabalhar. As necessidades da família também exigiam o trabalho. Foi ordenado padre em Bom Jesus do Itabapoana. A mãe é falecida e pertencia ao povo Pankararu, no Estado de Pernambuco, no Brejo dos Padres. Já o pai é do povo Pipipã, da cidade de Floresta, também em Pernambuco. 
Portanto, ele pertence às aldeias Pedra Tinideira, por parte de pai, e à Aldeia Brejinho da Serra, por parte da mãe. 
 
Para o padre, o fato de ter origem indígena não o ajuda, pelo contrário.  "Há muito preconceito contra os povos indígenas. Muita gente ainda os vê como não sendo humanos por completo, como atrasado. Aquele que não deve sair da origem, das matas e que deve permanecer ainda no anonimato. É um ser que não tem cultura, segundo a visão de muita gente. E devemos pensar logo - que a palavra índio já é carregada de preconceito", afirmou o padre. 
 
Na história do Brasil, a partir de 1970, os índios começaram a ser vistos, segundo ele, como um povo.  E a partir de 1988 é que o indígena passou a “ser de direito”, afirma. "Quando eu fiz o doutorado mostrei na tese a contribuição cultural do povo Pankararu com os seus rituais. No pós-doutorado voltei para o povo Pipipã", afirmou. 
 
Ele cursou doutorado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo em Ciências Sociais e pós-doutorado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Foi resgatar como pesquisador relatos de 1802 de seu povo. 
 
Segundo ele, o povo indígena tem sua cultura, mas não é “estático”.  Está aberto para outras realidades. “Temos acesso à tecnologia e eletricidade. Estamos abertos para as outras culturas, mas não perdemos a origem. Claro que os costumes nas cidades são diferentes", declarou. 
 
Na cidade falta espaço para manter os rituais da aldeia, como a fabricação de flechas, o toré e a mesa de cura. "A cultura de cada cidade é própria. Não adianta eu querer sair da aldeia para encontrar a minha tradição na cidade, tenho de me adaptar a esta nova realidade". 
 
O cristianismo faz parte das práticas e não há problema em viver o catolicismo e a fé indígena, afirma ele. "Pelo contrário, uma vai completando a outra. Acreditamos nos ‘encantados’ e também em Deus e Jesus". 
 
Para ele, não há problema ser indígena e padre. “Só devemos saber como se comportar em cada momento. Vivemos de rituais. A sociedade vive também, na prática, de rituais. Em sala de aula sou professor, na aldeia sou indígena e na igreja sou padre, claro respeitando todos os momentos. Geralmente digo que a minha vida é como se fosse várias caixinhas. Cada local é reservada para uma coisa e eu não misturo". A ideia de criar o canal no YouTube foi de transmitir aulas aos alunos. 
 
Mas então viu a possibilidade de também apresentar a cultura indígena, já que em muitos momentos fala dos povos. O canal, segundo ele, não deixa também de ser uma forma de evangelização. 

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