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Jornal Diário de Suzano - 14/12/2025
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Coluna

Shokonsai

26 agosto 2023 - 05h00

Semana passada, comemorando os 87 anos do muito querido amigo-irmão Massataka Hanashiro, como sempre fazemos nesses mais de quarenta anos de amizade, trocamos ideias sobre tudo, de política a cultura. E voltei a falar que, nessa pós-pandemia, estava retomando umas práticas antigas. Refazendo atividade física, com o Prof. Rafael Xavier, que adequa os exercícios às minhas condições pessoais. Por um longo período andei estático.
Também estou estudando com Osho as minhas antigas práticas de Yoga e Meditação, que tanto me contribuíram ao longo de anos. Mas, que, na realidade, parei totalmente nesses anos de ameaça de covid. E se me volto para as minhas formações orientais, indus e nipônicas é porque sei o quando isso faz parte de minha vida.
Meu próprio nome, “Suami”, é uma tradução do indu “Swami”, que significa “mestre de si mesmo”, que é de fato mais difícil do que ser mestre dos outros. Esse nome foi escolhido por meu pai que seguia a linha esotérica de Swami Vivekananda. Vale a pena conhecer um pouco desse Mestre. Aprendemos com os mais velhos.
E, claro, conversamos sobre Poesia. Estou tentando completar meu livro de Poemas no modelo Haikai, releio uns estudos e antologias que tenho e buscando mais, além do mestre japonês Basho. Já escrevi perto de uma centena de poemas nesse modelo, com três versos, de cinco, sete e cinco sílabas, com temas da natureza e do espirito. Muitos poetas brasileiros já se expressaram nesse modelo a mais de cem anos. Mas vou além, seguindo a tradição oriental, fazendo desenhos para cada poema, em bico de pena, com nanquim. Já tivemos muitos seguidores desse modelo de poética aqui em Suzano.
E falando disso, o Hanashiro me lembrou do “Shokonsai”, aquele exemplo de tradição nipônica que se implantou aqui no Brasil logo em seguida a chegada dos japoneses, hoje chegando aos 103 anos. Essa prática pretende desenvolver atividades para “cultuar a memória dos antepassados”, como destaca a tradição oriental, e que todos deveriam dar continuidade.
Temos locais, aqui no estado de São Paulo, como na cidade de Alvares Machado, que fica a uns dez quilômetros de Presidente Prudente, onde todos os anos umas práticas nessa direção são desenvolvidas. Nessa cidade está o único cemitério japonês da América Latina e ali se pratica essa celebração budista. Acontece no segundo domingo de Julho. Nesse cemitério foram sepultadas 784 pessoas, todas de origem japonesa, incluindo apenas um brasileiro , chamado de Manoel, que recebeu essa honra por ter defendido uma família japonesa. É um fato que desde 1940 o cemitério não tem mais sepultamentos, foram proibidos pelo Presidente Getúlio Vargas, mas hoje é um patrimônio tombado.
Na solenidade do “Shokonsai” se faz uma festa que reúne milhares de pessoas, inclusive com música e refeições típicas japonesas. Nessa festa, ao pôr do sol, é acesa uma vela em cada túmulo. E, que especial!, faz 98 anos que não chove com o acender das velas e nem venta. Para muitos um demonstrativo da força espiritual dos antepassados. A festa é uma forma de convidar a volta dos antepassados, uma espirit ualidade. Aprendemos tanto, mesmo que não saibamos, com os nossos ancestrais!